Escravidão e tráfico ilegal na fronteira sul do Brasil: o caso dos charqueadores rio-grandenses, dos saladeristas uruguaios e de suas redes mercantis (c. 1830-1850)
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7976.2023.e93024Palavras-chave:
Tráfico ilegal, Escravidão, Rio da Prata, CharqueResumo
O artigo analisa a presença da escravidão nas fábricas de carne-seca do sul do Brasil e do Uruguai, com destaque para as cidades de Pelotas e Montevidéu, e a vinculação dos seus proprietários com as redes do tráfico de africanos escravizados. Embora a região da fronteira com o Rio da Prata esteja distante dos principais portos negreiros do Império, a pesquisa busca contribuir com uma análise de como essas elites regionais atuaram no interior das redes mercantis do tráfico, elaborando estratégias para continuar com o comércio ilegal e a exploração da mão de obra cativa em suas terras. A conjuntura dos anos 1830 e 1840 foi marcada tanto por uma forte pressão britânica contra o tráfico, quanto por medidas parlamentares a fim de proibi-lo, exigindo alternativas dos charqueadores, saladeristas e comerciantes escravistas da fronteira. Portanto, como o tráfico ilegal para a região deixou poucos documentos, o artigo busca rastrear tais negócios por meio da correspondência trocada entre comerciantes, charqueadores e saladeristas, contratos de sociedade, mapas de população, inventários post-mortem e registros paróquias de batismo, contribuindo com uma perspectiva ao mesmo tempo regional e transnacional sobre o tema.
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