Marfim e trabalhadores itinerantes durante a “Partilha da África”

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7976.2024.e98219

Palavras-chave:

trabalhadores itinerantes, marfim, Partilha da África

Resumo

O período convencional da chamada “Partilha da África” (1884-1914) coincide com um grande afluxo de marfim bruto para as metrópoles. Enquanto mercadoria de uma economia colonial em expansão, o comércio de marfim dependeu de uma série de grupos de trabalhadores africanos itinerantes. Desde a extração das presas até a armazenagem, o transporte terrestre e o embarque em portos marítimos, vários grupos de africanos (guias, caçadores, batedores e carregadores) eram necessários até que o marfim chegasse às mãos dos trabalhadores europeus que, depois do desembarque e da distribuição da matéria-prima por diferentes países, o transformariam em joias, teclas de piano, bolas de bilhar, etc. A partir de alguns exemplos como a principal fábrica de marfim da Alemanha do II Reich, busca-se retraçar a cadeia produtiva do marfim com enfoque para os vários grupos de trabalhadores africanos itinerantes. Com destaque para as fontes da imprensa colonial alemã e a partir de uma história entrelaçada (verflochtene Geschichte) entre a extração, o transporte, o armazenamento e a transformação do marfim, a proposta deste artigo visa conectar o trabalho de africanos itinerantes com o lazer da burguesia europeia sedentária em torno de uma mesa de bilhar ou de um piano.

Biografia do Autor

Sílvio Marcus de Souza Correa, Universidade Federal de Santa Catarina

Professor associado no departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em História Global e do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC. 

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Publicado

2024-09-09

Como Citar

Correa, S. M. de S. (2024). Marfim e trabalhadores itinerantes durante a “Partilha da África”. Esboços: Histórias Em Contextos Globais, 31(57), 197–219. https://doi.org/10.5007/2175-7976.2024.e98219

Edição

Seção

Dossiê "Migração Laboral e Produção de Commodities na África: Conexões Globais"