A natureza do juízo moral em Hume
DOI:
https://doi.org/10.5007/1677-2954.2020v19n1p89Resumo
A interpretação padrão da teoria da motivação humeana considera que a mesma subscreveria um modelo conativista baseado em desejos (paixões), enquanto intrinsecamente motivadores, que nos comprometeriam com uma concepção de internalismo motivacional e, por conseguinte, com uma posição não-cognitivista. Basicamente, esta interpretação padrão de Hume, sustenta que os juízos morais são de natureza puramente conativa, fornecendo, assim, ao agente uma razão ou motivo intrínseco para agir (internalismo motivacional), não exprimindo, no entanto, nenhum conteúdo racional cognitivo (não-cognitivismo). Dada a aproximação entre verdade e conhecimento, os cognitivistas afirmam também a tese de que há autêntico conhecimento moral. Os juízos morais possuem conteúdo cognitivo e não apenas, como querem os não-cognitivistas, expressões de atitudes, de preferências, de desejos ou de prescrições. Desta forma, o contraste entre cognitivismo e não-cognitivismo gira primariamente em torno da questão sobre a natureza do juízo moral. E, na interpretação clássica de Hume, a natureza do juízo moral seria não-cognitiva. Com este trabalho exploro uma linha de argumentação alternativa, em defesa de uma posição que privilegia a possibilidade de um conhecimento moral, segundo a filosofia moral de Hume. Os fundamentos da moral em Hume examinam a exigência motivacional tendo como alvo, a ser criticado, não o conhecimento moral (cognitivismo) e sim o racionalismo moral. No entanto, essa linha alternativa, não representa uma adesão pura ao cognitivismo. A estratégia seguida por essa argumentação, consiste em apontar o aspecto “prático” dos juízos morais, ou seja, o seu papel na orientação e na motivação das ações morais, e, em seguida, argumentar que, dada essa função primordial dos juízos morais, repetindo, o seu caráter prático, orientador de ações, não exclui, também, um conhecimento moral. De certa forma, o argumento é que, segundo a teoria da motivação de Hume, a natureza do juízo moral teria uma dimensão objetiva e prática (aquilo que realmente nos move para a ação).
Referências
ANSCOMBE, G.E. M. Intention. Oxford: Basil Blackwell, 1957.
AUDI, R. Moral Knowledge and ethical character. New York: Oxford University Press, 1977.
BRINK, David. Moral realism and the foundations of ethics. Cambridge: Cambridge University Press, 1989.
BRICKE, John. Mind & Morality: An Examination of Hume's Moral Psychology. Oxford: OUP Oxford, 2000.
CARVALHO, Maria Cecília Maringoni de. Uma defesa do realismo moral internalista: a posição de David McNaughton. In: DUTRA, L. H. & MORTARI, C. (org. ) Ética: anais do IV Simpósio Internacional PRINCIPIA: parte 2. Florianópolis: UFSC, NEL, 2005.
DANCY, J. Moral Reasons. Oxford: Blackwell, 199.3
HAMPTON, Jean. “Does Hume Have an Instrumental Conception of Practical Reason?” HUME STUDIES, Oxford, USA, Volume XXI, n. 1, p. 57-74, Abril 1995.
HUME, David. Tratado da Natureza Humana: uma tentativa de introduzir o método experimental de raciocínio nos assuntos morais. (Tradução Débora Danowski) São Paulo: Editora UNESP, 2001.
HUME, David. Investigações sobre o entendimento humano e sobre os princípios da moral. (Tradução de José Oscar de Almeida Marques) São Paulo: Editora UNESP, 2004.
NAGEL, Thomas. The possibility of altruism. Princeton: Princeton University Press, 1970.
RADCLIFFE, E.S. kantian tunes on a humean instrument: why hume is not really a skeptic about practical reasoning. The Canadian Journal of Philosophy, 27, 247–269.
RAWLS, John. História da Filosofia Moral. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
SMITH, Michael. The Moral Problem. Oxford: Blackwell, 1994.
VELASCO, Marina. Hume, as paixões e a motivação. ANALYTICA. Volume 6, número 2, 2001/2002.
WILLIANS, Bernard. “Internal and External Reasons”, In: Moral Luck , Cambridge: Cambridge U. P., 1981.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
This obra is licensed under a Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional