Quem tem medo da liberdade de expressão? O cidadão de bem e o agitador no Tratado teológico-político

Autores

  • Antônio David Universidade de São Paulo (USP)

DOI:

https://doi.org/10.5007/1677-2954.2021.e84381

Palavras-chave:

Hábitos de vida, Docente, Saúde, Doença, Ensino.

Resumo

O artigo examina o problema da separação entre Estado e religião e o tema da liberdade de expressão no Tratado teológico-político de Espinosa. Tomando como ponto de partida a recepção da obra no contexto de seu aparecimento, e chamando a atenção para as transgressões que ela realiza, procura-se mostrar de que maneira o Tratado teológico-político toma parte no imaginário político holandês, e por que a escolha da fundação e da ruína do imperium hebreu por Espinosa é estratégica. Desmentindo o senso comum de que na República das Sete Províncias Unidas havia total liberdade de pensamento e de expressão, o Tratado teológico-político revela um quadro de tensões e impasses no contexto da República, razão pela qual Espinosa realiza nessa obra a defesa da liberdade de opinião. Ao cabo, contrapondo-se às tradicionais imagens do “cidadão de bem” (o que submete sua opinião às autoridades civis) e do “rebelde” ou “agitador” (o que age contra a autoridade civil e instiga outros a fazê-lo), o capítulo final realiza uma crítica imanente ao pensamento vulgar, revelando que, afinal, os “verdadeiros agitadores” são aqueles que almejam cercear a liberdade de expressão.

Referências

ANDRADE, Fernando Dias. Um crisol contra o estado servil. Sobre Espinosa, tratado político, III, 1-9. Ipseitas (São Carlos), vol. 1, n. 2, jul.-dez. 2015, p. 17-35.

AURÉLIO, Diogo Pires. Imaginação e poder. Estudo sobre a filosofia política de Espinosa. Lisboa: Colibri, 2000.

BALIBAR, Étienne. Jus, Pactum, Lex: sur la constitution du sujet dans le Traité Théologico-Politique. Studia spinozana: an international and interdisciplinary series, n. 1, 1985, p. 105-142.

CALVINO, João. A instituição da religião cristã. Tomo 2. Tradução: Carlos Eduardo de Oliveira. São Paulo: Editora UNESP, 2008.

CHAUI, Marilena. Manifestações ideológicas do autoritarismo brasileiro. Belo Horizonte: Autêntica Editora; São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2013. Escritos de Marilena Chaui, v. 2 (Organizador André Rocha).

CHAUI, Marilena. Política em Espinosa. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

DAVID, Antônio. A prática e a teoria. Espinosa contra os filósofos. Síntese (Belo Horizonte), vol. 48, n. 151, maio-ago. 2021, p. 415-451.

DAVID, Antônio. Ad usum vitae. Causalidade e história em Espinosa. doispontos, vol. 16, n. 3, nov. 2019a, p. 1-23.

DAVID, Antônio. Espinosa e a gênese do direito comum. Cadernos Espinosanos, n. 41, jul-dez 2019b, p. 173-215.

DUNKELGRÜN, Theodor. ‘Neerlands Israel’: Political Theology, Christian Hebraism, Biblical Antiquarianism, and Historical Myth. In: CRUZ, Laura; FRIJHOFF, Willem (ed.). Myth in history, history in myth: proceedings of the third international conference of the society for netherlandic history (New York : June 5-6, 2006). Brill, 2009, p. 201-236.

ESPINOSA, Baruch. Carta 44. Tradução: Antônio David. Cadernos de Ética e Filosofia Política, n. 20, p. 178-81.

ESPINOSA, Baruch. Epistola L. Tradução: Diego Lanciote. Modernos & Contemporâneos (Campinas), v. 2, n. 4., jul.-dez. 2018, 267-71.

ESPINOSA, Baruch. Ética. Tradução: Grupo de Estudos Espinosanos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015.

ESPINOSA, Baruch. Spinoza Opera. Im Auftrag der Heidelberger Akademie der Wissenschaften hrs. von Carl Gebhardt. Heidelberg, C. Winter, 1972.

ESPINOSA, Baruch. Traité théologico-politique; Traduction: Jacqueline Lagrée et Pierre-François Moreau. Paris: Presses Universitaires de France, 2012.

ESPINOSA, Baruch. Tratado Político. Tradução: Diogo Pires Aurélio. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

ESPINOSA, Baruch. Tratado Teológico-político. Tradução: Diogo Pires Aurélio. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

FRIJHOFF, Willem. Prophétie et société dans les Provinces-Unis aux XVII e et XVIII e siècles, In: DUPONT-COUCHAT, Marie-Sylvie; FRIJHOFF, Willem; MUCHEMBLED, Robert. Prophètes et Sorciers dans les Pays-Bas XVIe et XVIIIe siècles. Hachette, 1978, p. 263-362.

HOBBES, Thomas. Do cidadão. Tradução: Janine Ribeiro. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

JAMES, Susan. Spinoza on philosophy, religion, and politics. The theologico-political treatise. Oxford University Press: 2012.

LAZZERI, Christian. Droit, pouvoir et liberté. Spinoza critique de Hobbes. Paris: Presses Universitaires de France, 1998.

LAZZERI, Christian. Les lois de l’obéissance: sur la théorie spinoziste des transferts de droit. Les Études philosophiques, n. 4, oct-déc. 1987, p. 409-438.

MOREAU, Pierre-François. Le Traité théologique-politique. Kriterion, n. 106, dez. 2002, p. 77-88

NADLER, Steven. A book forged in hell: Spinoza’s scandalous treatise and the birth of the secular age. Princeton University Press: 2011.

ROWEN, Herbert H. Johan de Witt. Statesman of the “true freedom”. Cambridge University Press, 1986.

SCATTOLA, Merio. Teologia política. Tradução: José Jacinto Correia Serra. Lisboa: Edições 70, 2007.

STEENBAKKERS, Piet. The text of Spinoza’s Tractatus Theologico-Politicus. In: MELAMED, Yitzhak Y.; ROSENTHAL, Mochael, A. (ed.) Spinoza’s ‘theological-political treatise’: a critical guide. Cambridge University Press: 2010, p. 29-40.

STERN, Jill. The Orangist Myth, 1650–1672. In: CRUZ, Laura; FRIJHOFF, Willem (ed.). Myth in history, history in myth: proceedings of the Third International Conference of the Society for Netherlandic History (New York: June 5-6, 2006). Brill, 2009, p. 33-52.

STRAUSS, Leo. Spinoza's critique of religion. Translation: E.M. Sinclair. The University of Chicago Press, 1965.

TOMÁS DE AQUINO. Escritos Políticos. Tradução: Francisco Benjamin de Souza Neto. Petrópolis: Vozes, 1995.

TROOST, Wout. William III, the Stadholder-king a political biography. Translated by J.C. Grayson. Routledge, 2016.

Downloads

Publicado

2021-12-16

Edição

Seção

Dossiê Hobbes e Espinosa: estado, poder, religião e liberdade