O Corpo Noturno da democracia e o que resta da escravidão
DOI:
https://doi.org/10.5007/1677-2954.2023.e95040Palavras-chave:
Democracia, Autoritarismo, Liberdade, Escravidão, ColonialismoResumo
Este artigo se propõe mostrar a conexão entre a escravidão e a noção moderna de liberdade, herdada do liberalismo político e econômico. Com essa correlação será possível mostrar, a partir das reflexões do filósofo camaronês Achille Mbembe, que as colônias ou a experiência colonial não são estranhas aos regimes democráticos modernos, mas constituem, na verdade, o seu fundamento. A partir disso, é possível exibir que as democracias liberais não conseguem se desvencilhar daquilo que constitui o seu corpo noturno, o colonialismo e a escravidão. Nesse sentido, a maneira como a noção de liberdade tem sido instrumentalizada por movimentos de extrema direita está intimamente associada ao papel que a escravidão teve na conformação das democracias liberais. Mais ainda, o retorno disso que foi recalcado, a escravidão, tem sido mobilizado para erodir os regimes democráticos. A fim de elucidar essas reflexões, este artigo se debruça sobre alguns acontecimentos políticos que ocorreram recentemente no Brasil.
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