Covid-19 e os catadores de materiais recicláveis: riscos, medos e angústias de uma profissão esquecida
DOI:
https://doi.org/10.5007/1807-0221.2021.e80981Resumo
O presente estudo tem como objetivo analisar os fatores de risco da pandemia da Covid-19 que acometem os catadores de materiais recicláveis do lixão de Floriano-PI e é resultado de um Projeto de Extensão desenvolvido no campus Amílcar Ferreira Sobral da Universidade Federal do Piauí (UFPI). No que concerne à metodologia, a abordagem é qualitativa, de natureza descritiva, sendo realizada uma pesquisa de campo com entrevista com os catadores que trabalham no lixão municipal. O lixão não é controlado e não dispõe de segurança, ficando aberto para qualquer pessoa se desfazer de materiais inservíveis de toda espécie. Os principais resultados obtidos foram de que, embora a profissão já seja naturalmente muito arriscada, os trabalhadores estão sujeitos a riscos adicionais, tendo em vista que os resíduos que eles selecionam podem vir impregnados com o vírus. Além disso, os entrevistados relataram que o fechamento do comércio, com destaque para bares e restaurantes, somado à redução expressiva de eventos promovidos pela prefeitura e por organizadores particulares – reflexos da implementação do lockdown – prejudicou bastante a atividade, tendo em vista que diminuiu consideravelmente o volume de itens que são utilizados para a reciclagem, como latinhas de cerveja e de refrigerante, garrafas PET, caixas de papelão etc., os quais são os mais vendidos por eles. Para além da preocupação com o risco de contaminação e com a falta de um controle sistematizado na coleta domiciliar e no descarte desordenado dos resíduos no lixão, os trabalhadores tiveram redução substancial na suas rendas familiares, produzindo ainda mais vulnerabilidade social.
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