Em torno do funeral de uma sacerdotisa ganesa: sobre Shango e a identidade brasileira

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-8034.2025.e100165

Palavras-chave:

Diásporas africanas, Retornados, Identidade, Xangô, Tabom

Resumo

Diante da intensificação de diversas formas de repressão na primeira metade do século XIX, que se dirigia acima de tudo contra africanos/as libertos/as, centenas de ex-escravizados resolveram “retornar” à África e se fixaram majoritariamente nos países atuais da Nigéria, no Benim e, em menor número, também em Gana. Partindo dos acontecimentos em torno do funeral de uma importante sacerdotisa dos descendentes daqueles ex-escravizados que se radicaram em Acra – capital de Gana –, este artigo analisa os modos de integração dos chamados tabons na sociedade local e as estratégias identitárias adotadas nesse grupo.

Biografia do Autor

Andreas Hofbauer, UNESP - Marília

Doutor em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo em 1999 e título de livre-docente pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Câmpus de Marília, em 2019. Atualmente é Professor Doutor na Unesp, Câmpus Marília. Sua atuação acadêmica concentra-se em temas como racismo e antirracismo, diferença, desigualdade, formas de religiosidade e dinâmicas identitárias em contextos afro- diaspóricos.

Benjamin Amakye-Boateng

Doutor e Professor Sênior no Departamento de Música da Universidade de Gana, com mais de 20 anos de experiência em ensino, pesquisa e direção musical. Especialista em etnomusicologia, sua pesquisa foca na relação entre música, identidade e patrimônio, com ênfase na comunidade afro-brasileira Tabom em Gana. Doutor em Etnomusicologia e autor de diversas publicações sobre música africana e afro-brasileira. Seu envolvimento em posições de liderança, colaborações internacionais e compromisso com a preservação da música tradicional o tornam uma figura de destaque na educação e pesquisa musical africana.

Referências

AMAKYE-BOATENG, Benjamin. Music of the Tabom: Its Cultural Background and Style. 2017. 214p. Tese (Doutorado) – University of Ghana, Ghana, 2017.

AMOS, Alcione Meira. Os que voltaram: a história dos retornados afro-brasileiros na África Ocidental no século XIX. Belo Horizonte: Tradição Planalto Editora, 2007.

AMOS, Alcione Meira; AYESU, Ebenezer. “Sou brasileiro”: história dos tabom, afro-brasileiros em Acra, Gana. Afro-Ásia, [s.l.], v. 33, p. 35-65, 2005.

APTER, Andrew. Black Critics & Kings: The Hermeneutics of Power in Yoruba Society. Chicago: The University of Chicago Press, 1992.

BAKARE-YUSUF, Bibi. ‘Yorubas don’t do gender’: a Critical Review of Oyeronke Oyewumi’s The Invention of Women: Making an African Sense of Western Gender Discourses. African Gender Scholarship: Concepts, Methodologies and Paradigms. CODESRIA Gender Series, Dakar, p. 61-81, 2004.

BOB-MILLIAR, George M. Chieftaincy, Diaspora, and Development: The Institution of Nkɔsuohene in Ghana. African Affairs, [s.l.], v. 108, n. 433, p. 541-558, 2009.

CASTILLO, Lisa Louise Earl. Em busca dos agudás da Bahia: trajetórias individuais e mudanças demográficas no século XIX. Afro-Ásia, [s.l.], v. 55, p. 111-147, 2016.

COSTA E SILVA, Alberto da. Francisco Félix de Souza: Marcador de Escravos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004.

CUNHA, Manuela Carneiro da. Negros, estrangeiros: os escravos libertos e sua volta à África. São Paulo: Brasiliense, 1985.

DIAZ, Juan Diego (org.). Tabom Voices: A History of the Ghanaian Afro-Brazilian Community in their Own Words. Accra: Queiroz Galvão, 2016.

ESSIEN, Kwame. ‘Afie ni afie’ (Home is home): Revisiting Reverse Trans-Atlantic Journeys to Ghana and the Paradox of Return. Ìrìnkèrndò: A Journal of African Migration, [s.l.], junho, p. 1-34, 2014.

ESSIEN, Kwame. African Diaspora in Reverse: The Tabom People in Ghana, 1820s-2009. 2010. 366 p. Tese (Doutorado) – The University of Texas at Austin, 2010.

ESSIEN, Kwame. Brazilian-African Diaspora in Ghana: The Tabom, Slavery, Dissonance of Memory, Identity and Locating Home. Michigan: Michigan State University Press, 2016.

GURAN, Milton. Agudás: Os ‘brasileiros’ do Benim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. HARTMAN, Saidiya. Perder a mãe: uma jornada pela rota atlântica da escravidão. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.

HESSE, Hermann von; YARAK, Larry W. A Tale of Two ‘Returnee’ Communities in the Gold Coast and Ghana: Accra’s Tabon and Elmina’s Ex-Soldiers, 1830s to the Present. International Journal of African Historical Studies, [s.l.], v. 51, p. 197-217, 2018.

HOFBAUER, Andreas. Dos retornos à África Ocidental: semelhanças e diferenças. Afro-Ásia, [s.l.], v. 67, p. 183-255, 2023.

LAW, Robin; MANN, Kristin.West Africa in the Atlantic Community: The Case of the Slave Coast. William and Mary Quarterly, [s.l.], v. 56, 2, p. 307-334, 1999.

LAW, Robin. A carreira de Francisco Félix de Souza na África Ocidental (1800-1849). Topoi, [s.l.], p. 9-39, mar. 2001.

LAW, Robin. The Oyo Empire, c. 1600-c. 1836: A West African Imperialism in the Era of the Atlantic Slave Trade. Oxford: Clarendon Press, 1977.

LAW, Robin. Yoruba liberated slaves who returned to West Africa. In: FALOLA, Toyin; CHILDS, Matt D. The Yoruba Diaspora in the Atlantic World. Bloomington: Indiana University Press, 2004. p. 349-365.

LOVEJOY, Paul. Jihad e escravidão: as origens dos escravos muçulmanos da Bahia. Topoi, [s.l.], n. 1, p. 11-44, 2000.

LOVEJOY, Paul. Jihad in West Africa during the Age of Revolutions. Athens: Ohio University Press, 2016.

MATORY, J. Lorand. Black Atlantic Religion: Tradition, Transnationalism, and Matriarchy in the Afro-Brazilian Candomblé. Princeton: Princeton University Press, 2005.

MATORY, J. Lorand. The English Professors of Brazil: On the Diasporic Roots of the Yorùbá Nation. Comparative Studies in Society and History, [s.l.], v. 41, n. 1, p. 72-103, 1999.

MATORY, J. Lorand. The Homeward Ship: Analytic Tropes as Maps of and for African-Diaspora Cultural History. In: HARDIN, Rebecca; CLARKE, Kamari Maxine (org.). Transforming Ethnographic Knowledge. Madison: University of Wisconsin Press, 2012. p. 93-112.

MATORY, Lorand J. Is there Gender in Yorùbá Culture? In: OLUPONA, Jacob K.; REY, Terry. Òrìşà Devotion as World Religion: The Globalization of Yorùbá Religious Culture. Madison: The University of Wisconsin Press, 2008. p. 513-558.

MIERS, Suzanne; KOPYTOFF, Igor (org.). Slavery in Africa: Historical and Anthropological Perspectives. Madison: The University of Wisconsin Press, 1977.

ODOTEI, Irene. External Influences on Ga Society and Culture. Research Review NS, [s.l.], n. 7, p. 61-71, 1991.

ODOTEI, Irene. Pre-Colonial Economic Activities of Ga. Research Review NS, [s.l.], n. 11, p. 60- 74, 1995.

ORTNER, Sherry. Anthropology and Social Theory. London: Duke University Press, 2006.

OYĚWÙMÍ, Oyèrónkẹ. The Invention of Women: Making an African Sense of Western Gender Discourses. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1997.

PARÉS, Luis Nicolau. A formação do candomblé: história e ritual da nação jeje na Bahia. Campinas: Editora da Unicamp, 2006.

PARÉS, Luis Nicolau. Entre Bahia e a Costa da Mina, libertos africanos no tráfico ilegal. In: RAGGI, Giuseppina et al. Salvador da Bahia: interações entre América e África (séculos XVI- XIX). Salvador: Edufba, 2017. p. 13-49.

PARÉS, Luis Nicolau. Joaquim de Almeida: a história do africano traficado que se tornou traficante de africanos. São Paulo: Companhia das Letras, 2023.

PARÉS, Luis Nicolau. Libertos africanos, comércio atlântico e candomblé: a história de uma carta que não chegou ao destino. Revista de História, [s.l.], n. 178, p. 1-34, 2019.

PARÉS, Luis Nicolau. Milicianos, barbeiros e traficantes numa irmandade católica de africanos minas e jejes (Bahia, 1779-1830). Revista Tempo, [s.l.], n. 20, p. 1-32, 2014.

PARÉS, Luis Nicolau; CASTILLO, Lisa Earl. José Pedro Autran e o retorno de Xangô. Religião e Sociedade, [s.l.], v. 35, n. 1, p. 12-41, 2015.

PERBI, Akosua. The Relationship between the Domestic Slave Trade and the External Slave Trade in Pre-Colonial Ghana. Research Review, Institute of African Studies, University of Ghana, v. 8, p. 64-75, 1992.

PEREGRINO-BRIMAH, Abdulai. The Ga-Tabom. Peregrinos of Ghana: The History of a Family. Acra: Larajah, 2021.

PEREGRINO BRIMAH, Muhammed Bashir. A Migrant African Chief: Trials and Triumph (Mysticism or Mythology). Baltimore: Noble House, 2001.

QUAYSON, Ato. Oxford Street: City Life and the Itineraries of Transnationalism. Durham: Duke University Press, 2014.

REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês (1835). São Paulo: Brasiliense, 1986.

SAHLINS, Marshall. Ilhas de história. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.

SCHAUMLOEFFEL, Marco Aurelio. Tabom: a comunidade afro-brasileira do Gana. Bridgetown: Lulu.com, 2008.

SCHRAMM, Katharina. African Homecoming: Pan-African Ideology and Contested Heritage. Walnut Creek: Left Coast Press, 2010.

SEGATO, Rita. Género, política e hibridismo en la transnacionalización de la cultura Yoruba. Estudos Afro-Asiáticos, [s.l.], v. 2, p. 333-363, 2003.

SOUZA, Mônica Lima e. Entre margens: o retorno à África de libertos no Brasil, 1830-1870. 2008. 271p. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2008.

THORNTON, John K. The Kingdom of Kongo Civil War and Transition, 1641-1718. Madison: The University of Wisconsin Press,1983.

ZIMMERMANN, Johannes. A Grammatical Sketch of the Akra- or Gã-Language, with Some Specimens of it from the Mouth of the Natives. Stuttgart: Steinkopf, 1858.

Downloads

Publicado

2025-06-03

Como Citar

HOFBAUER, Andreas; AMAKYE-BOATENG, Benjamin. Em torno do funeral de uma sacerdotisa ganesa: sobre Shango e a identidade brasileira. Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis, v. 27, n. 1, p. 6–33, 2025. DOI: 10.5007/2175-8034.2025.e100165. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ilha/article/view/100165. Acesso em: 10 dez. 2025.

Edição

Seção

Artigos