Pode o inseto des-fazer um mundo? O bicudo e a (contra)colonização da monocultura no semiárido da Paraíba
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-8034.2019v21n2p65Resumo
O presente artigo baseado em um engajamento etnográfico realizado desde 2015 junto a famílias de agricultores camponeses do Médio Sertão da Paraíba, se propõe a narrar a ascensão e declínio das plantations de algodão no semiárido da Paraíba. No centro da narrativa se encontra o bicudo (Anthonomus grandis), um inseto até nunca antes visto na região que surgiu em meio as plantações no início da década de oitenta e gerou uma inflexão histórica, desmantelando o então vigente sistema agrícola de monocultura que impedia a prática da agricultura tradicional local. Com ação de magnitude revolucionária, o bicudo terminou por promover uma difusa descentralização fundiária, permitindo a atualização de práticas agrícolas tradicionais até então submersas. Assim, através de uma narrativa diacrônica, realizo o contraste entre dois sistemas agrícolas, a agrobiodiversidade neles presentes, seus modos de se relacionar com a terra, e os efeitos práticos promovidos por tais atividades na textura da paisagem.
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