Pode o inseto des-fazer um mundo? O bicudo e a (contra)colonização da monocultura no semiárido da Paraíba

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-8034.2019v21n2p65

Resumo

O presente artigo baseado em um engajamento etnográfico realizado desde 2015 junto a famílias de agricultores camponeses do Médio Sertão da Paraíba, se propõe a narrar a ascensão e declínio das plantations de algodão no semiárido da Paraíba. No centro da narrativa se encontra o bicudo (Anthonomus grandis), um inseto até nunca antes visto na região que surgiu em meio as plantações no início da década de oitenta e gerou uma inflexão histórica, desmantelando o então vigente sistema agrícola de monocultura que impedia a prática da agricultura tradicional local. Com ação de magnitude revolucionária, o bicudo terminou por promover uma difusa descentralização fundiária, permitindo a atualização de práticas agrícolas tradicionais até então submersas. Assim, através de uma narrativa diacrônica, realizo o contraste entre dois sistemas agrícolas, a agrobiodiversidade neles presentes, seus modos de se relacionar com a terra, e os efeitos práticos promovidos por tais atividades na textura da paisagem.

Biografia do Autor

Gabriel Holliver, Doutorando em Antropologia Social pelo PPGAS-MN/UFRJ

Doutorando em Antropologia Social pelo PPGAS-MN/UFRJ e mestre pela mesma instituição. Realiza desde 2015 pesquisa com populações camponesas no semiárido brasileiro, com ênfase em conhecimento tradicional, sistemas agrícolas e relações multiespécies.

Referências

ALMEIDA, Mauro William Barbosa de. 2016. Desenvolvimento entrópico e a alternativa da diversidade. In: RURIS-Revista do Centro de Estudos Rurais-UNICAMP, v. 10, n. 1.

ALMEIDA, Mauro William Barbosa de. 2013. Caipora e outros conflitos ontológicos In: Revista de Antropologia da UFSCar, v.5, n.1, jan.-jun., p.7-2.

ARAÚJO, Douglas. 2003. A morte do sertão antigo no Seridó: O desmoronamento das fazendas agropecuaristas em Caicó e Florânia.(1970-90). Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal de Pernambuco, Recife.

BALÉE, William. 2008. Sobre a indigeneidade das paisagens. In: Revista de Arqueologia , v. 21, n. 2.

DE LA CADENA, Marisol. 2018. Natureza incomum: histórias do antropo-cego. In: Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 69, p. 95-117.

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. 2017. Traditional people, collectors of diversity. In: The anthropology of sustainability: beyond development and progress. Mark Brightman and Jerome Lewis, eds. Pp. 257–272. Basingstoke: Palgrave Macmillan.

COSTA, T. C., DE OLIVEIRA, M. A., ACCIOLY, L. J. D. O., & DA SILVA, F. H. 2009. Análise da degradação da caatinga no núcleo de desertificação do Seridó (RN/PB). In: Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental v.13, (Suplemento), p.961–974, Campina Grande, PB.

CUNHA, Euclides da. 2001 [1905] Os Sertões (Campanha de Canudos). Edição e prefácio, cronologia, notas e índice Leopoldo M. Bernucci. São Paulo: Ateliê editorial, Imprensa Oficial do Estado. Arquivo do Estado, .

EMPERAIRE, Laure. 2006. História de plantas, histórias de vida: uma abordagem integrada da diversidade agrícola tradicional na Amazônia. In: Kubo R, Bassi JB, Coelho de Souza G, Alencar NL, Medeiros PM de, Albuquerque UP de (eds.). Anais do VI Symposium da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia. Porto Alegre, 2006, SBEE. 3: 189-198.

EMPERAIRE, Laure. 2011. Diversidade biológica e diversidade cultural. In: Diversidade cultural e desigualdade de trocas: participação, comércio e comunicação/organização José Márcio Barros e Giuliana Kauark. – São Paulo: Itaú Cultural; Observatório da Diversidade Cultural, Editora PUCMinas.

HARAWAY, Donna. 2015. Anthropocene, capitalocene, plantationocene, chthulucene: Making kin. Environmental humanities, v. 6, n. 1, p. 159-165.

HARAWAY, Donna et al. 2016. Anthropologists are talking–about the Anthropocene. Ethnos, v. 81, n. 3, p. 535-564.

GARCIA JR, Afrânio. 1989. Sul, O caminho do roçado. Estratégias de reprodução camponesa e transformação.

GUATTARI, Félix. 2012. As três ecologias. tradução Maria Cristina F. Bittencourt; revisão da tradução Suely Rolnik. - 21ªed. -Campinas, SP:Papirus.

HEREDIA, Beatriz M Alásia de. 2008 [1988]. O campesinato e a plantation. A história e os mecanismos de um processo deexpropriação. In: NEVES, Delma Pessanha. Processos de constituição e reprodução do campesinato no Brasil. Fundação Editora UNESP (FEU): São Paulo.

LIMA, Tânia Stolze. 1999. Para uma teoria etnográfica da distinção natureza e cultura na cosmologia juruna. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 14, n. 40, p. 43-52.

LLOSA, Mario Vargas. 1982. A guerra do fim do mundo: a saga de Antônio Conselheiro na maior aventura literária do nosso tempo. F. Alves.

LUKEFAHR, M. J.; BARBOSA, S.; BRAGA SOBRINHO, R. 1984. Aspectos históricos do bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis Baheman). Embrapa Algodão-Documentos (INFOTECA-E),.

MACHADO, B. 1975. Farquhar and Ford in Brazil: studies in business expansion and foreign policy. Tese (Doutorado em História) – Northwestern University Evanston, IL.

MIRANDA, José Ednilson; RODRIGUES, Sandra Maria Morais. 2015. História do bicudo no Brasil.O bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis Boh., 1843) nos cerrados brasileiros: Biologia e medidas.

NAKANO, Octavio. 1983. Bicudo: a praga mais importante do algodao. Agroquımica, v. 21, p. 10-14.

OLIVEIRA, Joana Cabral de. 2016. Mundos de roças e florestas. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 11, n. 1, p. 115-131, jan./abr.

PALMEIRA, Moacir. 1977. Casa e trabalho: nota sobre as relações sociais na plantation tradicional. Contraponto, v. 2, n. 2.

SANTOS, Antonio Bispo dos. 2015. Colonização, Quilombos Modos e Significações. Brasília. INCTI, UnB.

SANTONIERI, Laura Rodrigues. 2015. Agrobiodiversidade e conservação ex situ: reflexões sobre conceitos e práticas a partir do caso da Embrapa/Brasil. Tese (Doutorado) – Departamento de Antropologia Social, UNICAMP.

SILVA, Roberto Marinho Alves da. 2003. Entre dois paradigmas: combate à seca e convivência com o semi-árido. Sociedade e estado, v. 18, n. 1-2, p. 361-385.

SHIVA. Vandana. 2003. Monoculturas da mente: perspectivas da biodiversidade e da biotecnologia. Tradução: Daniel de Abreu Azevedo – São Paulo: Gaia.

SUSSEKIND, Felipe. 2018. Sobre a vida multiespécie. Rev. Inst. Estud. Bras., São Paulo, n. 69, p. 159-178, abr.

TADDEI, Renzo. 2006. Oráculos da chuva em tempos modernos, mídia desenvolvimento econômico e as transformações na identidade social dos profetas do sertão. In: Karla Martins, org. Profetas da chuva. Fortaleza: Tempo D'Imagem.

TEIXEIRA, Jorge Luan. Caçando e conhecendo (n)o ‘enlinhado’. Texto Inédito, mimeo 2019.

TSING, Anna Lowenhaupt. 2015. Margens indomáveis: cogumelos como espécies companheiras. Ilha Revista de Antropologia, 17(1), 177-201.

TSING, Anna Lowenhaupt. 2019. Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no antropoceno. Edição Thiago Mota Cardoso, Rafael Victorino Devos. - Brasília: IEB Mil Folhas.

WOORTMANN, Klaas; WOORTMANN, Ellen. 1997. O trabalho da terra, A lógica simbólica da lavoura camponesa. Brasília, Editora da UnB.

VELHO, Otávio Guilherme. 1976. Capitalismo autoritário e campesinato: um estudo comparativo a partir da fronteira em movimento. Difel.

VAN DOOREN, Thom; KIRKSEY, Eben; MÜNSTER, Ursula. 2016. Estudos multiespécies: cultivando artes de atentividade. Trad. Susana Oliveira Dias. ClimaCom [online], Campinas, Incertezas, ano. 3, n. 7, pp.39-66, Dez. Available from: http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/wp-content/uploads/2014/12/07-Incertezas-nov2016.pdf

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2016. Os Involuntários da Pátria. Aula pública durante o ato Abril Indígena, Cinelândia, Rio de Janeiro, 20 (04).

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2019. On Models and Examples: Engineers and Bricoleurs in the Anthropocene. Current Anthropology 0 0:0, S000-S000.

Downloads

Publicado

2019-12-31

Como Citar

HOLLIVER, Gabriel. Pode o inseto des-fazer um mundo? O bicudo e a (contra)colonização da monocultura no semiárido da Paraíba. Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis, v. 21, n. 2, p. 065–095, 2019. DOI: 10.5007/2175-8034.2019v21n2p65. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ilha/article/view/2175-8034.2019v21n2p65. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Artigos