Reagregando o biopsicossocial: a clínica da dor sob análise etnográfica
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-8034.2021.e72223Resumo
A análise biomédica costuma destacar o aspecto biopsicossocial da dor crônica, caracterizado por abranger a doença como um todo sob um olhar multidisciplinar. No entanto, como a noção de conjunto social é mobilizada nessa síntese? Interessado em enactments da prática clínica da medicina especializada em dor crônica, analiso como tais práticas compõem (in)distinções que envolvem o biológico, o psicológico e o social. Influenciado pelos estudos antropológicos da ciência, do corpo e da saúde, priorizarei nesse artigo a descrição etnográfica de consultas e de discussões de casos clínicos em um hospital universitário para sugerir que fronteiras biossociais são instáveis e exigem coordenações ontológicas. Desse modo, indicarei que o corpo com dor crônica delimitado em uma consulta se mostra atravessado por políticas públicas, relações familiares, estratégias econômicas, materialidades e desejos diversos, por isso se torna resistente ao completo isolamento analítico dos fatores discriminatórios capazes de estabilizarem biologia, psicologia e relações sociais.
Referências
BASZANGER, Isabelle. Pain Physicians: All Alike, All Different. In: BERG, M. and MOL, A. (Org). Differences in medicine: Unraveling practices, techniques, and bodies. Duke University Press, pp.119-143, 1998.
BERG, Marc; MOL, Annemarie. Differences in Medicine: An Introduction. In: BERG, M; MOL, A. (Org.) Differences in medicine: Unraveling practices, techniques, and bodies. Duke University Press, 1998.
BERG, Marc; AKRICH, Madeleine. Introduction–bodies on trial: performances and politics in medicine and biology. Body & Society, v. 10, n. 2-3, p. 1-12, 2004.
CUESTA, Alameda. Malestares en el margem – sujetos y trânsitos en la fibromialgia, el síndrome de fatiga crónica y la sensibilidade química multiple. Tesis doctoral. Universidade autônoma de Madrid: Madrid, 2014.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia, vol. 1. São Paulo: Ed, v. 34, n. 1.2011, 1995.
DELEUZE, Gilles. Como criar para si um corpo sem órgãos. In: Mil platôs, v. 3, 1996.
DESPRET, Vinciane. The body we care for: Figures of anthropo-zoo-genesis. Body & Society, v. 10, n. 2-3, p. 111-134, 2004.
DESPRET, Vinciane. Os dispositivos experimentais. Fractal: Revista de Psicologia, v. 23, n. 1, p. 43-58, 2011.
FLEISCHER, Soraya. O" Grupo da Pressão": Notas sobre as lógicas do “controle” de doenças crônicas na Guariroba, Ceilândia/DF. Amazônica - Revista de Antropologia, v. 5, n. 2, p. 452-477, 2014.
FLEISCHER, Soraya; FRANCH, Mónica. Uma dor que não passa: aportes teórico-metodológicos de uma antropologia das doenças compridas. Revista de Ciências Sociais-Política & Trabalho, v. 1, n. 42, 2015.
GATCHEL, Robert J. et al. The biopsychosocial approach to chronic pain: scientific advances and future directions. Psychological bulletin, v. 133, n. 4, pp.581-624, 2007.
GOOD, M. J. D., BRODWIN, P., GOOD, B., & KLEINMAN, A. (Ed.). Pain as human experience. Berkeley University of California Press, 1992.
GUERCI, A. e CONSIGLIERE, S. Por uma antropologia da dor. Nota preliminar. Ilha - Revista de Antropologia, 1, pp.57-72, 1999.
JACKSON, Jean. "Camp pain": Talking with chronic pain patients. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2000.
HARAWAY, Donna. Manifesto Ciborgue: Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX In: TADEU, Tomaz (Org.) Antropologia do Ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica Editora, pp.33-118, 2009.
LATOUR, Bruno. Reassembling the social: An Introduction to Actor-Network-Theory. Oxford University Press, New York, 2005.
LATOUR, Bruno. Como falar do corpo? A dimensão normativa dos estudos sobre a ciência. Objectos impuros: experiências em estudos sobre a ciência. Porto: Afrontamento, pp.39-61, 2008
LE BRETON, David. Antropologia da dor. São Paulo: Fap-Unifesp, p. 248, 2013
LIMA, Mônica; TRAD, Bomfim. A dor crônica sob o olhar médico: modelo biomédico e prática clínica. Cadernos de Saúde Pública, v. 23, n. 11, p. 2672-2680, 2007.
LOCK, Margaret; NGUYEN, Vinh-Kim. Technologies and Bodies in Context. and Local Biologies and Human Difference. In: An anthropology of biomedicine. John Wiley & Sons: United Kigdom, 2010.
MAUSS, Marcel. As técnicas do corpo. In: Sociologia e antropologia. pp.399-422, 2003.
M'CHAREK, Amade. Fragile differences, relational effects: Stories about the materiality of race and sex. European Journal of Women's Studies, v. 17, n. 4, p. 307-322, 2010.
MERSKEY, Harold; BOGDUK, Nikolai, 1994. Classification of chronic pain, IASP Task Force on Taxonomy. "Part III: Pain Terms, A Current List with Definitions and Notes on Usage" (pp.209-214) Seattle, WA: International Association for the Study of Pain Press (available at https://www.iasp-pain.org/Education/Content.aspx?ItemNumber=1698&navItemNumber=576 Consultado em 03/03/2019)
MOL, Annemarie. The body multiple. Duke University Press, 2002.
PATEL, Nilesh. Fisiologia da dor. In: KOPF, Andreas e PATEL, Nilesh (org). Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos. IASP Press, Seattle, pp.9-13, 2009.
ROHDEN, Fabíola. “Os Hormônios te Salvam de Tudo”: Produção de subjetividades e transformações corporais com o uso de recursos biomédicos. Mana, v. 24, n. 1, p. 199-229, 2018a.
ROHDEN, Fabíola. Considerações teórico-metodológicas sobre objetos instáveis e ausências presentes: analisando processos de materialização do desejo feminino. In: SEGATA, Jean; RIFIOTIS, Theophilos (org.). Políticas etnográficas no campo da ciência e das tecnologias da vida. Porto Alegre: UFRGS; ABA, pp. 135-158, 2018b.
STENGERS, Isabelle. A invenção das Ciências Modernas. São Paulo: Editora 34, 2002.
STENGERS, Isabelle. Cosmopolitics VII – The Curse of Tolerance. London: University of Minnesota Press, pp.303-416, 2011.
TONIOL, Rodrigo. Do espírito na saúde – Oferta e uso de terapias alternativas/complementares nos serviços de saúde pública no Brasil. Tese de doutorado apresentada no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da UFRGS. Porto Alegre, 2015.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Ilha Revista de Antropologia
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Os autores cedem à Ilha – Revista de Antropologia – ISSN 2175-8034 os direitos exclusivos de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição Não Comercial Compartilhar Igual (CC BY-NC-SA) 4.0 International. Esta licença permite que terceiros remixem, adaptem e criem a partir do trabalho publicado, desde que para fins não comerciais, atribuindo o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico desde que adotem a mesma licença, compartilhar igual. Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico, desde que para fins não comerciais e compartilhar igual.