Entre Cérebros, Psychés e Culturas: notas para o debate sobre a epistemologia que embasa serviços de saúde mental para imigrantes-refugiadas em São Paulo
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-8034.2022.e80387Palavras-chave:
Etnopsiquiatria, Psiquiatria transcultural, Psiquiatria social e cultural, Saúde mentalResumo
Este ensaio pretende debater os pressupostos te?orico-epistemolo?gicos dos servic?os de sau?de mental denominados culturalmente sensi?veis no Brasil. Abordando autores da etnopsiquiatria francesa, da psiquiatria transcultural estadunidense e da psiquiatria social e cultural canadense, todas vertentes suscitadas pela interlocuc?a?o empreendida com me?dicas psiquiatras, psicanalistas e psico?logas durante pesquisa etnogra?fica, procuro fazer o dia?logo dessas correntes com determinadas elaborac?o?es feitas a partir da antropologia de Le?vi-Strauss e Roy Wagner. Aponto, por fim, para como e? possi?vel resistir a?s reificac?o?es simplistas comuns ao debate proposto desde o campo psi, complexificando as abordagens que costumam condicionar a atribuic?a?o da condic?a?o de sujeito mediante o compartilhamento de estruturas universalmente distribui?das, como ce?rebros, culturas e psyche?s.
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