A “justiça” e o acesso a medicamentos em tempos de desabastecimento

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-8034.2023.e85571

Palavras-chave:

Assistência farmacêutica, Judicialização da saúde, Direitos, Crise, Escassez

Resumo

O artigo trata de histórias de usuários de uma instituição chamada Câmara de Resolução de Litígios de Saúde (CRLS) que acompanhei entre os anos de 2016 e 2017. Por meio da contextualização dos relatos em relação ao que estava acontecendo na rede pública de saúde da cidade do Rio de Janeiro durante o período em que realizei uma etnografia, abordo os caminhos percorridos pelas pessoas para contornar a falta de medicamentos nas Unidades de Saúde, em especial de pacientes acometidos por doenças crônicas que necessitam de remédios de uso contínuo. Discuto também como os funcionários da Câmara tentam resolver administrativamente essas demandas e as soluções propostas por eles. Em diálogo com a bibliografia sobre o controverso tema da judicialização da saúde, busco refletir sobre o lugar ocupado pela ‘justiça’ na busca pela assistência farmacêutica em tempos de desabastecimento e seus limites para a promoção do acesso a medicamentos.

Biografia do Autor

Lucas de Magalhães Freire, Fundação Getulio Vargas

Doutor em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ. Atualmente é bolsista do Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD) da CAPES no Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais da Fundação Getulio Vargas (PPHPBC/FGV) e um dos coordenadores do Laboratório de Antropologia Contemporânea da instituição.

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Publicado

2023-01-19

Como Citar

FREIRE, . de M. A “justiça” e o acesso a medicamentos em tempos de desabastecimento. Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis, v. 25, n. 1, p. 43–61, 2023. DOI: 10.5007/2175-8034.2023.e85571. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ilha/article/view/85571. Acesso em: 31 maio. 2023.

Edição

Seção

Antropologias a partir dos medicamentos: co-produções, políticas e agenciamentos