A fluidez do aprimoramento cognitivo farmacológico e a co-produção de modos de subjetividade na contemporaneidade: uma pesquisa antropológica a partir dos nootrópicos

Autores

  • Bruno Pereira de Castro Instituto de Estudos em Saúde Coletiva - UFRJ

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-8034.2023.e85685

Palavras-chave:

Aprimoramento biomédico, Nootrópicos, Medicamentos, Internet

Resumo

Em incursa?o etnogra?fica pela internet, seguindo as pistas da divulgac?a?o cienti?fica e comercial de substa?ncias nootro?picas nas redes sociais (Facebook, Instagram, YouTube), discute-se o estatuto de tais substa?ncias, as quais compreendem ampla gama de produtos que escapam a? regulac?a?o sanita?ria oficial, e a ressignificac?a?o do aprimoramento cognitivo farmacolo?gico que elas promovem. Consideradas seguras e isentas de efeitos colaterais por seus propagadores, elas sa?o indicadas e vendidas para potencializarem o aprimoramento cognitivo e a maximizac?a?o da produtividade humana. Cria-se um humano otimizado. A interac?a?o entre o pu?blico leigo, interessado nas substa?ncias nootro?picas anunciadas e seus supostos efeitos, e os especialistas que as recomendam enseja novas biossocialidades, consagrando a lo?gica capitalista das tecnologias biome?dicas e seus efeitos poli?ticos e socioecono?micos em contextos de acirrada concorre?ncia profissional e acade?mica.

Biografia do Autor

Bruno Pereira de Castro, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva - UFRJ

Graduado em Farmácia pela Universidade Federal Fluminense. Mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na área de Ciências Sociais e Humanas em Saúde. Doutorando em Saúde Coletiva pelo IESC/UFRJ, na área de Ciências Sociais em Humanas e Saúde.

Referências

AZIZE, R. L. Antropologia e medicamentos: uma aproximação necessária. Revista de Antropologia da UFSCar, [s.l.], v. 4, n. 1, p. 134-139, jun. 2012.

AZIZE, R. L. O cérebro como órgão pessoal: uma antropologia de discursos neurocientíficos. Trabalho, Educação e Saúde, [s.l.], v. 8, n. 3, p. 563-574, nov. 2010.

AZIZE, R. L. Uma neuro-weltanschauung? Fisicalismo e subjetividade na divulgação de doenças e medicamentos do cérebro. Mana, Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p. 7-30, abr. 2008.

BARROS, D.; ORTEGA, F. Metilfenidato e Aprimoramento Cognitivo Farmacológico: representações sociais de universitários. Saúde e Sociedade, [s.l.], v. 20, n. 2, p. 350-362, 2011.

BELL, S. K.; LUCKE, J. C.; HALL, W. D. Lessons for Enhancement from the History of Cocaine and Amphetamine Use. AJOB Neuroscience, [s.l.], v. 3, n. 2, p. 24-29, abr. 2012.

BRAINHACKER. BrainHacker – O Estranho Segredo Mágico do Sucesso. 2022. Disponível em: https://brainhacker.com.br/. Acesso em: 22 out. 2022.

BRUNO, L. Substâncias que melhoram o desempenho do cérebro. Nootrópicos com a Dra. Rita Castro. YouTube, 14 jan. 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=sxQvvdCy5Jk. Acesso em: 27 set. 2021.

CASTRO. Uso de medicamentos nootrópicos para aprimoramento cognitivo: estudo socioantropológico do blog “Cérebro turbinado”. 2018. 104p. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 2018.

CASTRO, B.; BRANDÃO, E. R. Aprimoramento cognitivo e uso de substâncias: um estudo em torno da divulgação midiática brasileira sobre “smart drugs” e nootrópicos. Teoria e Cultura, [s.l.], v. 15, n. 2, p. 14, 2020.

CASTRO, B. de. Aprimoramento cognitivo e a produção de modos de subjetividade: um estudo sobre o uso de substâncias “nootrópicas” a partir de um blog brasileiro. Saúde e Sociedade, [s.l.], v. 29, n. 1, p. e190936, 2020.

CAVALCANTI, L. O preço da competição: estudo acerca do consumo de Metilfenidato entre os alunos da UFPE. 2018. 141p. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2018.

CHINTHAPALLI, K. The billion dollar business of being smart. BMJ, [s.l.], p. h4829, 14 set. 2015.

CLARKE, A. E. et al. (org.). Biomedicalization: technoscience, health, and illness in the U.S. Durham, NC: Duke University Press, 2010.

CELLARD, A. A análise documental. In: POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 295-316.

COELHO, E. B. O consumo do medicamento ritalina® e a produção do aperfeiçoamento circunstancial. 2016. 149p. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016.

COELHO, E. B.; LEAL, O. F. Fabricando um corpo sem limites: a busca pelo sucesso profissional e o consumo de metilfenidato. In: MCCALLUM, C. A.; ROHDEN, F. (ed.). Corpo e Saúde na mira da Antropologia: ontologias, práticas, traduções. Salvador: EDUFBA, 2015. p. 155-176.

COHEN, D. et al. Medications as Social Phenomena. Health: An Interdisciplinary Journal for the Social Study of Health, Illness and Medicine, [s.l.], v. 5, n. 4, p. 441-469, out. 2001.

COLLIN, J. On social plasticity: the transformative power of pharmaceuticals on health, nature and identity. Sociology of Health & Illness, [s.l.], v. 38, n. 1, p. 73-89, jan. 2016.

CONRAD, P. The medicalization of society: on the transformation of human conditions into treatable disorders. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2007.

CORREA, R. Substâncias que turbinam o cérebro: os nootrópicos. YouTube, 13 maio 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PQjWerFjStg. Acesso em: 20 out. 2021.

COVENEY, C.; GABE, J.; WILLIAMS, S. The sociology of cognitive enhancement: Medicalisation and beyond. Health Sociology Review, [s.l.], v. 20, n. 4, p. 381-393, dez. 2011.

COVENEY, C.; WILLIAMS, S. J.; GABE, J. Enhancement imaginaries: exploring public understandings of pharmaceutical cognitive enhancing drugs. Drugs: Education, Prevention and Policy, [s.l.], v. 26, n. 4, p. 319-328, 4 jul. 2019.

CRAWFORD, R. Salutarismo e medicalização da vida cotidiana. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde, [s.l.], v. 13, n. 1, 29 mar. 2019. Disponível em: https://www.reciis.icict.fiocruz.br/index.php/reciis/article/view/1775. Acesso em: 2 set. 2020.

FAVARO, L.; GILL, R.; HARVEY, L. Fazendo dados da mídia – Uma introdução à pesquisa qualitativa da mídia. In: BRAUN, V.; CLARKE, V.; GRAY, D. (org.). Coleta de dados qualitativos: um guia prático para técnicas textuais, midiáticas e virtuais. Petrópolis: Vozes, 2019. p. 149-175.

FIGUEROA, A. L. G. Guaraná, a máquina do tempo dos Sateré-Mawé. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, [s.l.], v. 11, n. 1, p. 55-85, abr. 2016.

FLECK, L. Gênese e desenvolvimento de um fato científico: introdução à doutrina do estilo de pensamento e do coletivo de pensamento. Belo Horizonte: Fabrefactum Editora, 2010.

FOUCAULT, M. Ditos e Escritos VII: Arte, Epistemologia, Filosofia e História da Medicina. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011. v. VII.

FOUCAULT, M. Nascimento da biopolítica: curso dado no College de France (1978-1979). São Paulo: Martins Fontes, 2008.

FRAGOSO, S.; RECUERO, R.; AMARAL, A. Métodos de pesquisa para internet. Porto Alegre: Sulina, 2011.

GEEST, S. van der; WHYTE, S. R. The Charm of Medicines: Metaphors and Metonyms. Medical Anthropology Quarterly, [s.l.], v. 3, n. 4, p. 345-367, dez. 1989.

GEEST, S. van der; WHYTE, S. R.; HARDON, A. The Anthropology of Pharmaceuticals: a Biographical Approach. Annual Review of Anthropology, [s.l.], v. 25, n. 1, p. 153-178, 21 out. 1996.

GIBBON, S.; NOVAS, C. (org.). Biosocialities, genetics and the social sciences: making biologies and identities. London; New York: Routledge, 2008.

GIURGEA, C. The “nootropic” approach to the pharmacology of the integrative activity of the brain. Integrative Psychological and Behavioral Science, [s.l.], v. 8, n. 2, p. 108-115, 1973.

GIURGEA, C. The nootropic concept and its prospective implications. Drug Development Research, [s.l.], v. 2, n. 5, p. 441-446, 1982.

HARDON, A.; SANABRIA, E. Fluid Drugs: Revisiting the Anthropology of Pharmaceuticals. Annual Review of Anthropology, [s.l.], v. 46, n. 1, p. 117-132, 23 out. 2017.

HEALY, D. The creation of psychopharmacology. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2002.

HELLOBRAIN. Quem usa e recomenda Hellobrain. 2022. Disponível em: https://hellobrain. com.br/. Acesso em: 22 set. 2022.

HINE, C.; PARREIRAS, C.; LINS, B. A. A internet 3E: uma internet incorporada, corporificada e cotidiana. Cadernos de Campo (São Paulo – 1991), [s.l.], v. 29, n. 2, p. e181370, 31 dez. 2020.

ITABORAHY, C. A ritalina no Brasil: uma década de produção, divulgação e consumo. 2009. 126p. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.

LOPES, N. M.; RODRIGUES, C. F. Medicamentos, consumos de performance e culturas terapêuticas em mudança. Sociologia, Problemas e Práticas, [s.l.], n. 78, 23 mar. 2015. Disponível em: https://revistas.rcaap.pt/sociologiapp/article/view/4018. Acesso em: 21 nov. 2020.

LUPTON, D. Digital sociology. Abingdon, Oxon: Routledge; Taylor & Francis Group, 2015.

MAIA, I. Disputas em torno da Ritalina: uma análise sobre diferentes possibilidades de um fármaco. 2017. 137p. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017.

NEWSWIRE, P. R. Nootropics Market Size Worth $4.94 Billion by 2025. Bloomberg, 24 set. 2019. Disponível em: https://www.bloomberg.com/press-releases/2019-09-24/nootropics- market-size-worth-4-94-billion-by-2025-cagr-12-5-grand-view-research-inc. Acesso em: 27 jul. 2020.

ORTEGA, F. et al. A ritalina no Brasil: produções, discursos e práticas. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, [s.l.], v. 14, n. 34, p. 499-512, 17 set. 2010.

PARTRIDGE, B. J. et al. Smart Drugs “As Common as Coffee”: Media Hype about Neuroenhancement. PLoS ONE, [s.l.], v. 6, n. 11, p. e28416, 30 nov. 2011.

RABINOW, P. Artificiality and Enlightenment: From Sociobiology to Biosociality – Essays on the anthropology of reason – Princeton studies in culture/power/history. Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1996.

RAGAN, C. I.; BARD, I.; SINGH, I. What should we do about student use of cognitive enhancers? An analysis of current evidence. Neuropharmacology, [s.l.], v. 64, p. 588-595, jan. 2013.

RASMUSSEN, N. On speed: the many lives of amphetamine. New York: New York University Press, 2008.

ROBERTS, C. A. et al. How effective are pharmaceuticals for cognitive enhancement in healthy adults? A series of meta-analyses of cognitive performance during acute administration of modafinil, methylphenidate and D-amphetamine. European Neuropsychopharmacology, [s.l.], v. 38, p. 40-62, set. 2020.

ROSE, N. Inventing our selves: psychology, power, and personhood. Revised. Cambridge: Cambridge Univ. Press, 2010.

ROSE, N. Neurochemical selves. Society, [s.l.] v. 41, n. 1, p. 46-59, nov. 2003.

ROSE, N. Politics of life itself: biomedicine, power, and subjectivity in the twenty-first century. Princeton: Princeton University Press, 2007.

SÁ-SILVA, J. R.; ALMEIDA, C.D.; GUINDANI, J. F. et al. Pesquisa documental: pistas teóricas e metodológicas. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais, [s.l.], v. 1, n. 1, jul. 2009.

SATTLER, S. et al. Impact of contextual factors and substance characteristics on perspectives toward cognitive enhancement. PloS One, [s.l.], v. 8, n. 8, p. e71452, 2013. SCHIVELBUSCH, W. Tastes of paradise: a social history of spices, stimulants, and intoxicants. 1st Vintage Books ed. New York: Vintage Books, 1993.

SILVA, M. J. de S. e; SCHRAIBER, L. B.; MOTA, A. The concept of health in Collective Health: contributions from social and historical critique of scientific production. Physis: Revista de Saúde Coletiva, [s.l.], v. 29, n. 1, p. e290102, 2019.

STAHL, S. M.; GRADY, M. M. Stahl’s essential psychopharmacology: prescriber’s guide. 6th ed. Cambridge, United Kingdom; New York, NY: Cambridge University Press, 2017.

VIDAL, F.; ORTEGA, F. Somos nosso cérebro? Neurociências, subjetividade, cultura. São Paulo: N-1, 2019.

WADE, L.; FORLINI, C.; RACINE, E. Generating genius: how an Alzheimer’s drug became considered a ‘cognitive enhancer’ for healthy individuals. BMC Medical Ethics, [s.l.], v. 15, n. 1, p. 37, dez. 2014.

WEINBERG, B. A.; BEALER, B. K. The world of caffeine: the science and culture of the world’s most popular drug. New York: Routledge, 2001.

WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Officials Records of the World Health Organization. [S.l.: s.n.], 1948. Disponível em: https:// apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/85573/Official_record2_eng. pdf;jsessionid=7734CB0E66A6B44DB72871DCEDEBF01E?sequence=1. Acesso em: 27 jan. 2020.

WILLIAMS, S. J.; MARTIN, P.; GABE, J. The pharmaceuticalisation of society? A framework for analysis: The pharmaceuticalisation of society? Sociology of Health & Illness, [s.l.], v. 33, n. 5, p. 710-725, jul. 2011.

ZEISEL, S. H. Regulation of “Nutraceuticals”. Science, [s.l.], v. 285, n. 5.435, p. 1.853-1.855, 17 set. 1999.

Downloads

Publicado

2023-01-19

Como Citar

CASTRO, Bruno Pereira de. A fluidez do aprimoramento cognitivo farmacológico e a co-produção de modos de subjetividade na contemporaneidade: uma pesquisa antropológica a partir dos nootrópicos. Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis, v. 25, n. 1, p. 159–177, 2023. DOI: 10.5007/2175-8034.2023.e85685. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ilha/article/view/85685. Acesso em: 29 mar. 2024.

Edição

Seção

Antropologias a partir dos medicamentos: co-produções, políticas e agenciamentos