O drive canibalista funk: partes da pessoa, matéria do artista
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-8034.2024.e95563Palabras clave:
Noção de pessoa, Fractalidade, Imagem, Apropriação, Artista pop periféricoResumen
Dando sequência ao exercício de imaginação conceitual realizado com o artista funk, elaboro sobre o nexo entre Estética e Política. Proponho uma abordagem para subjetivações artísticas pop periféricas. Como “pessoa distribuída” e junto a uma teoria afro-indígena brasileira, vemos o artista funk deixar partes de si e se apropriar de partes de outras pessoas, fazendo delas matéria com as quais se redistribuirá. A distribuição de si, os fazeres conectivos e as diferenças – geográficas, sociais e de gosto – colocadas em relação são materializadas por meio da escrita etnográfica, da teoria e do material videográfico. As estratégias de autoapresentação e de autorrepresentação potencializam a capilaridade do artista, trazendo para jogo as qualidades fractais da imagem e as estéticas corporais. Por meio do hiper-realismo – sobretudo sonoro e visual – o artista visibiliza a si e a sua “realidade”. Ofereço uma teoria da conectividade junto ao modo de criação do artista funk e ao modo de criação teórica-etnográfica realizado no texto.
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