Seres transmutantes: uma proposta para uma antropologia do pensamento
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-8034.2017v19n1p217Resumo
obra original: Transmutating beings: A proposal for an anthropology of thought
Autoria de: Carlo Severi Tradução: Felipe Neis Araújo
Formas de pensar, daquilo que Lévi-Strauss chamou de “sistematização do que é imediatamente apresentado aos sentidos” às teorias causais estudadas por Evans-Pritchard na bruxaria, têm sido interpretadas geralmente como uma expressão de uma linguagem ou “cultura” específica. Neste artigo eu discuto este modo de definir pensamento. Três objeções clássicas são examinadas: (1) sociedades que compartilham o mesmo “sistema de pensamento” podem falar línguas diferentes, e vice-versa; (2) se existe uma relação entre linguagem e pensamento ela é indireta e controversa, e jamais devemos assumí-la (ou inferir qualidades de pensamento a partir da estrutura linguística) sem investigar a fundo; (3) as linguagens que usamos para qualificar diferentes tipos de pensamento são continuamente traduzidas. Através de uma discussão do contexto da tradução eu defendo que, ao invés de enxergar a possibilidade de traduzir como uma dificuldade teórica para definir o pensamento, poderíamos, ao contrário, considerar a etnografia da tradução como uma oportunidade de observar as dinâmicas e a estrutura dos processos de pensamento, e de estudar como eles operam em diferentes contextos culturais. Usando três exemplos amazônicos, eu vou tentar descrever o tipo de cognição envolvida pela forma de tradução que Jakobson chama de transmutação. Eu irei argumentar que a partir desta análise etnográfica podemos derivar não apenas uma ideia melhor (mais ampla e mais precisa) de alguns processos de tradução cultural raramente estudados, mas também extrair um novo modo de definir o conceito de “ontologia cultural”, tanto para as culturas amazônicas quanto em termos mais gerais.
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