Políticas científicas e economias éticas no desenvolvimento de vacinas contra Zika
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-8034.2020v22n2p63Resumo
A epidemia de Zika alarmou as autoridades sanitárias internacionais, que responderam convocando esforços para o desenvolvimento de uma vacina. O objetivo era produzir uma biotecnologia que protegesse especialmente mulheres grávidas e em idade reprodutiva, a fim de evitar que mais bebês desenvolvessem a Síndrome Congênita do Vírus Zika. Neste contexto, os argumentos de cientistas sobre a necessidade de incluir mulheres grávidas em estudos biomédicos foram intensificados como forma de garantir que este grupo receba medicamentos com segurança e eficácia comprovadas. Aqui, priorizamos as percepções de mulheres de dois estados brasileiros sobre sua participação hipotética em um teste de vacina contra o zika. Considerando suas hesitações em relação aos experimentos médicos e suas esperanças no desenvolvimento de um tratamento para o Zika, nós tensionamos a produção de biotecnologias com base em percepções específicas sobre o corpo, risco e ética que negligenciam o conhecimento e as experiências das mesmas mulheres que supostamente buscam proteger.
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