Editorial

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DOI:

https://doi.org/10.1590/1982-02592020v23n3p383

Resumo

Se Max Weber pudesse, por algum milagre, analisar as duas primeiras décadas do século XXI, ficaria intelectualmente instigado com o grau de irracionalismo da “política” contemporânea. Se essa versão encarnada do autor alemão fosse aquela associada ao romantismo e ao pessimismo cultural, ele teria a certeza de que a sua metáfora da jaula de ferro se confirmara em sua forma mais radical. A racionalidade burocrática – que, na concepção do autor, representaria uma das singularidades do capitalismo
em relação aos outros sistemas – parece dividir espaço, sem contradições, com a irracionalidade. A racionalidade, forma moderna de dominação, teria produzido a reificação das relações sociais e ao desencantamento do mundo. Nesse sentido, Weber estaria de acordo com Marx de que o capitalismo moderno é um universo em que os indivíduos são dirigidos por abstrações, “em que relações impessoais e coisificadas substituem as relações pessoais de dependência e em que a acumulação do capital se torna um fim em si, amplamente irracional” (LÖWY, 2014, p. 18). Habermas (1980) nos lembra que Weber introduziu o conceito de “racionalidade” a fim de determinar a forma da atividade econômica no capitalismo, das relações de direito privado burguesas e da dominação burocrática. A racionalização progressiva da sociedade estaria ligada a secularização e a institucionalização do progresso científico e técnico.

Biografia do Autor

Ricardo Colturato Festi, Professor Adjunto do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB)

Doutorou-se em Sociologia pela Universidade de Campinas (Unicamp) com a tese O Mundo do Trabalho e os Dilemas da Modernização: Percursos Cruzados da Sociologia Francesas e Brasileira (1950-1960). Realizou estágio de pesquisa (doutorado sanduíche) na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), em Paris, entre 2015 e 2017. Graduou-se em bacharelado e licenciatura em Ciências Sociais e defendeu dissertação de mestrado em sociologia, todos pela Unicamp. É membro do Grupo de Pesquisa Mundo do Trabalho e suas Metamorfoses, coordenado pelo Prof. Ricardo Antunes. Têm experiências nas áreas de Sociologia, com ênfase em Sociologia do Trabalho e Pensamento Social, desenvolvendo pesquisas e estudos sobre sociologia da sociologia do trabalho, plataformas digitais e mundo do trabalho, entre outros.

Referências

HABERMAS, J. Técnica e ciência enquanto ideologia: para os 70 anos de Hebert Marcuse, no dia 19-VII-1968. In: BENJAMIN, W.;ADORNO, T. W.; HOKHEIMER, M. (Eds.). Textos escolhidos. São Paulo: Abril, 1980. p. 343.

LÖWY, M. A jaula de aço: Max Weber e o marxismo weberiano. Tradução: Mariana Echalar. São Paulo: Boitempo, 2014.

LUKÁCS, G. Para uma ontologia do ser social I. Tradução: Carlos Nelson Coutinho; Tradução: Mario Duayer; Tradução: Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo, 2012.

SCHWAB, K. La quatrième révolution industrielle. Malakoff: Dunod, 2017.

VALENTE, J. Tecnologia, informação e poder: das plataformas digitais online aos monopólios digitais. Tese de Doutorado - Brasília,D.F.: Universidade de Brasília, 2019.

Publicado

2020-10-05