Quando o judiciário é o respaldo: a internação psiquiátrica em questão

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/1982-0259.2023.e90185

Palavras-chave:

Judicialização da Saúde, Família, Política social, Reforma Psiquiátrica

Resumo

Diante da precariedade das políticas sociais, que impactam nas condições da família exercer sua função protetora, a judicialização das demandas de saúde mental torna-se um dos mecanismos utilizados para garantir direitos. Diante disso, objetivamos discutir a partilha de responsabilidades entre a família do sujeito em sofrimento psíquico e o Estado, a partir das demandas de internação compulsória que chegam ao judiciário brasileiro. Trata-se de uma pesquisa documental em que foram analisados 23 julgamentos, que tramitaram entre 2001 e 2017, na segunda instância do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Como resultados, destacamos que ao individualizar e reduzir demandas coletivas, o judiciário se configura como um aparato funcional ao capital em crise, baseado no discurso da igualdade jurídica.
A primazia do indivíduo também se evidencia nas poucas menções às famílias, tidas como informantes da condição do usuário, sua inserção no serviço oferecido pela rede é superficial.

Biografia do Autor

Ana Carolina Becker Nisiide, Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Formada em Serviço Social pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Formada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Especialista em Arteterapia, desenvolvimento humano e criatividade no espaço social, da saúde e educação ministrado pelo Centro de Estudos em Arteterapia, Psicologia e Educação (Centrarte), especialista em Planejamento, gestão e avaliação de Políticas Públicas pela UNIOESTE. Mestre em Serviço Social pela UNIOESTE. Doutoranda em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá - UEM. Professora colaboradora do curso de Serviço Social da Unioeste.

Maria Lucia Boarini, Universidade Estadual de Maringá

Doutora, Mestre e graduada em Psicologia. Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Estadual de Maringá. Criou o periódico cientifico "Psicologia em Estudo" (QUALIS A1), permanecendo como sua editora no período de 1996-2005. Líder do Grupo de pesquisa e estudo sobre higienismo e eugenia no Brasil/GEPHE - devidamente inscrito no CNPq, desde 1998. 

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Publicado

2023-07-17