Do corpo para si mesma: desdobramentos do ser feminino em A rainha do ignoto (1899), de Emília Freitas
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7917.2025.e104994Palavras-chave:
Emília Freitas, personagem feminina, romance, oitocentos, tradição literáriaResumo
A tradição literária oitocentista, sob a perspectiva masculina, definiu uma imagem para a mulher. Essa imagem era fixada em dois arquétipos: anjo e demônio. No entanto, algumas escritoras conseguiram romper com essa representação da mulher na literatura, ainda que, muitas vezes, por meio de estratégias narrativas sutis que dissimulavam a crítica subjacente. É o caso da escritora cearense Emília Freitas em seu romance A Rainha do Ignoto (1899). Para driblar a censura, a escritora constrói em sua obra uma narrativa que segue os parâmetros convencionais e outra que os subverte. A tensão entre o rompimento e a permanência do tradicional é atenuada por outra estratégia narrativa, a utilização de recursos sobrenaturais. Assim, por meio desses recursos, a escritora subverte a concepção de mulher do final do século XIX no Brasil, ao criar um espaço insular, oculto do restante do mundo, onde mulheres exerciam papéis de comando em todas as esferas e possuíam poderes místicos. Além disso, fora da ilha utópica – no espaço governado pela ordem masculina dominante – para exercer papéis negados às mulheres, a protagonista tinha o poder de transformar-se em qualquer pessoa. Diante disso, neste artigo, será apresentada a quebra de paradigmas na configuração da personagem feminina, em confronto com a tradição literária, no romance de Emília Freitas, tomando como base, sobretudo, os estudos de Sandra Gilbert e Susan Gubar (1998).
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