A (des)construção do "eu" n'Os cus de Judas

Resumo

Este trabalho tem como objetivo trazer à discussão o tema da composição do “eu” dentro da ficção de caráter autobiográfico Os cus de Judas (1979), do escritor português António Lobo Antunes. Para atender ao proposto, faz-se necessário avaliar a maneira como o autor tece seu discurso, no que tange à configuração da subjetividade associada à imagem (des)feita pela voz predominante do texto, que se dedica, durante uma noite taciturna regada à uísque, a jorrar sentimentos, sensações, receios e anseios. Conforme a obra envereda para o desvendamento do “eu” a partir de uma escrita memorialística, somos apresentados ao íntimo de alguém que compartilha do cenário caótico derivado da guerra colonial em Angola.  Pensar em analisar o caráter do personagem a partir do que ele próprio conta é pertinente por nos permitir compreender como é configurado o pensamento contemporâneo que, por conseguinte, delineia as formas de arte. Como auxílio teórico preponderante, serão referenciados Stuart Hall, cujo foco selecionado é a noção de identidade, Walter Benjamin, por suas colocações acerca de narrador, Paula Sibilia pelo seu estudo em prol da manifestação do íntimo, e Michel Foucault pelas observações a respeito da individualização.