Campo Belo: narrativa insubmissa e insurgente

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7917.2019v24n1p131

Resumo

Neste artigo desejamos provocar e compartilhar reflexões sobre o conto “Isaltina Campo Belo”, de autoria de Conceição Evaristo, parte integrante do livro: Insubmissas lágrimas de mulheres. A narrativa escolhida explicita o percurso da personagem em busca de compreensão da sua própria existência. Ao longo do caminho, surgem dúvidas, dores, alegrias e (des)cobertas sobre a construção da identidade de gênero, lesboafetiva e lesboerótica da personagem. O texto foi escrito a partir de alguns encaminhamentos que envolvem: problematizar os silêncios impostos historicamente que são construídos repletos de preconceitos e discriminações sobre a sexualidade da mulher negra; propor a insubmissão e a insurgência como categorias existenciais e claves interpretativas para análise do corpus; buscar referenciais teóricos pertinentes para a compreensão do conto analisado dentro da possibilidade de análise interseccional de gênero e sexualidade, principalmente dialogando com a perspectiva da “epistemologia negra sapatão” de Tanya L. Saunders para o lesbotexto apresentado e de autoras(es) que desenvolvem a perspectiva de pensar a literatura negra epistemologicamente; mapear a jornada da personagem do conto refletindo sobre os seus processos de construção identitária.

Biografia do Autor

Geny Ferreira Guimarães, Colégio Técnico da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Professora EBTT de Geografia no CTUR/UFRRJ e Coordenadora do LABGEO/CTUR. Doutora em Geografia pela UFBA (2015). Mestre em Ciências Sociais pela UFRRJ/CPDA (2004). Possui graduação em Geografia pela UFF com habilitações em Licenciatura (1994) e Bacharelado (1995). Especializações (Lato Sensu) em Relações Internacionais pela Universidade Cândido Mendes - UCAM (1999) e Gestão para Educação Ambiental - UERJ (2001). Especialização (Lato Sensu) em História, Cultura e Literatura Africana (UCB - em processo de elaboração de monografia). Com experiência na área de Geografia (magistério - desde 1998). Campo de pesquisa sobre os seguintes temas: questões ambientais; ruralidades; patrimônios; relações étnico-raciais (RER); Geografia Negra e Antirracista (Geografia N&A) e Geografia & Literatura Negro-brasileira (GeoLit Negra). Atualmente o seu foco é discutir a dimensão racial do espaço em termos de pesquisa, ensino e extensão nos estudos Geográficos.

Hildalia Fernandes Cunha Cordeiro, Universidade Federal da Bahia

Hildalia Fernandes é Educadora. Doutoranda em Literatura e Cultura pela UFBA; Mestre em Educação e Contemporaneidade pela UNEB na linha 1: Educação, memória, processos civilizatórios e pluralidade cultural. Foi docente nas licenciaturas de letras e pedagogia com os componentes: Fundamentos e Metodologia do Ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena (desde 2006.2), Leitura e Produção textual (desde 2008. 2); Fundamentos e Metodologia da Educação Ambiental (2009.1) e Pesquisa em educação (2015) na Faculdade D.Pedro II até dezembro de 2016. É especialista em História e Cultura Africana e Afro-Brasileira pela Fundação Visconde de Cairu (2009); especialista em Linguística Textual pelo CEPOM (1995) e concluinte na especialização em Consciência e Educação pelo ISEO e é, também pedagoga (Faculdade D. Pedro II). Prestou Consultoria para a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Salvador (SMEC) em Africanidades e Lei 10.639/03 (2005 a 2007) e Coordenou o grupo de pesquisa em Relações Étnico-raciais nos cursos de Letras e Pedagogia da Faculdade D. Pedro II (2011) e orienta trabalhos de conclusão de curso que versem sobre tais temáticas. Professora formadora (PARFOR) Educação das relações etnicorraciais na empresa UNEB Campus VI - IRECÊ Licenciatura em Artes Visuais - Universidade do Estado da Bahia (2013) e na Licenciatura de Geografia com o componente Pluralidade Cultural; Licenciatura em pedagogia em ITAGUAÇU (Xique - Xique); Professora formadora (UAB) Relações Etnicorraciais na empresa UFBA no Curso EJA na Diversidade (2013). Possui graduação em Serviço Social pela Universidade Católica do Salvador (1993) e Pedagogia (à distância) pela Faculdade D. Pedro II. Pesquisa sobre escrita literária de mulheres negras(em especial vida e obra de Carolina Maria de Jesus e Toni Morrison), narrativas de professoras negras e cabelo como símbolo identitário e educação antirracista. É, ainda, aprendiz de contista, tendo contos publicados nos Cadernos Negros 36 e 38. Faz parte dos grupos literários: Quilombo Letras e Quartinhas de Aruá e é Erva Doce na Capoeira. Docente no Cursinho pré-vestibular Vilma Reis com o componente curricular: Literatura negro-diaspórica

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Publicado

2019-08-26

Como Citar

GUIMARÃES, Geny Ferreira; CORDEIRO, Hildalia Fernandes Cunha. Campo Belo: narrativa insubmissa e insurgente. Anuário de Literatura, [S. l.], v. 24, n. 1, p. 131–148, 2019. DOI: 10.5007/2175-7917.2019v24n1p131. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/literatura/article/view/2175-7917.2019v24n1p131. Acesso em: 20 abr. 2024.

Edição

Seção

Representações afro-brasileiras: uma homenagem a Conceição Evaristo