Os corpos de Ângela Pralini e Macabéa: lugares de um registro melancólico

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7917.2023.e89611

Palavras-chave:

Corpo freudiano, Melancolia social, Melancolia existencial, Psicanálise, Clarice Lispector

Resumo

O corpo é estudado há muito tempo por todos aqueles que se interessam pelas angústias humanas, tanto em termos físicos quanto em ideias psicológicas. O corpo das personagens clariceanas, a saber Ângela Pralini e Macabéa, será o objeto de estudo deste artigo, fruto de uma pesquisa de doutoramento. O feixe discursivo (isto é, uma grande quantidade de palavras) das obras Um sopro de vida e A hora da estrela mostra dois seres fictícios desnorteados, desfuncionalizados, a-padrão social e literário. Macabéa estava quase sempre fungando, limpando o seu desespero com a bainha de sua combinação. Seu corpo raquítico e frágil revela uma linguagem fraca, alienada, de parcas palavras. O não dito também se faz presente em A hora da estrela à medida que os episódios persistem insinuados. A ausência de vocábulos no corpo de Macabéa levará a uma escrita melancólica em sua vida, uma vida de descompasso, de libido extraviada. O corpo de Ângela padece de perecimento. A solidão dela é grande, pois não é uma solidão qualquer: é a solidão de Deus. Seu corpo é paradoxal, explodindo para o nada. É um corpo com autoestima perturbada, pois ora quer cuidar da vida, ora demonstra o desamparo incurável do melancólico. Para esta análise, são fundamentais os estudos de Lambotte (1997, 2000), Freud (1980), Delouya (2000), entre outros.

Biografia do Autor

Adriana Vieira de Sena, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

É doutora em Estudos da Linguagem, com tese sobre a melancolia em Clarice Lispector. É docente há 15 anos na Secretaria Estadual de Educação (SEEC) e há 12 anos na Secretaria Municipal de Educação (SME). Trabalhou já em colégios particulares, além de ter experiência na área de educação a distância pelo Instituo Federal do Rio Grande do Norte. Atuou como professora substituta no IFRN.

Samuel Anderson de Oliveira Lima, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Possui mestrado e doutorado em Estudos da Linguagem pela UFRN. É professor do Departamento de Línguas e Literaturas Estrangeiras Modernas da UFRN, e atua no Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem (UFRN). 

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Publicado

2023-02-08

Como Citar

SENA, Adriana Vieira de; LIMA, Samuel Anderson de Oliveira. Os corpos de Ângela Pralini e Macabéa: lugares de um registro melancólico. Anuário de Literatura, [S. l.], v. 28, p. 01–20, 2023. DOI: 10.5007/2175-7917.2023.e89611. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/literatura/article/view/89611. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Artigos