Regulamentos da cultura: diversidade sexual e de gênero nos concursos juninos de Belém
DOI:
https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n156099Resumo
Perscrutando os regulamentos que regem os concursos juninos promovidos como política pública pela Prefeitura Municipal de Belém e pelo Governo do Estado do Pará, procuro entender como esses documentos tentam gerir a intensa participação de homossexuais e pessoas trans nesses certames. O que dizem esses regulamentos? Quais são as formas implícitas e explícitas através das quais o Estado se refere à diversidade sexual e de gênero? Com essas perguntas em mente (e baseado em trabalho de campo realizado entre 2012 e 2016 nos concursos juninos de Belém), busco respondêlas a partir da análise desses documentos e dos discursos que se constroem em torno deles.
Downloads
Referências
ABRAMS, Philip. “Notes on the Difficulty of Studying the State”. Journal of Historical Sociology, v. 01, n. 1, p. 58-89, mar. 1988.
ALMEIDA, Guilherme. “A propósito da discussão de feminilidades trans: notas sobre invisibilização, cidadania, corpo e processo transexualizador”. In: SILVA, Daniele Andrade; HERNANDÉZ, Jimena de Garay.; SILVA JUNIOR, Aureliano Lopes da; UZIEL, Anna Paula (Orgs.). Feminilidades: corpos e sexualidades em debate. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013. p. 107-118.
BENEDETTI, Marcos. Toda feita: o corpo e o gênero das travestis. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.
BENTO, Berenice. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio de Janeiro: Garamond, 2006.
BENTO, Berenice. “A diferença que faz a diferença: corpo e subjetividade na transexualidade”. Bagoas, n. 04, p. 95-112, 2009.
BENTO, Berenice. “Sexualidade e experiências trans: do hospital à alcova”. Ciência e Saúde Coletiva, v. 17, n. 10, p. 2655-2664, 2012.
BENTO, Berenice; PELÚCIO, Larissa. “Despatologização do gênero: a politização das identidades abjetas”. Revista Estudos Feministas, v. 20, n. 2, p. 569-581, 2012.
BURKE, Peter. Cultura popular na Idade Moderna: Europa 1500-1800. São Paulo: Companhia das Letras, 2010 [1978].
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
BUTLER, Judith. “Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do ‘sexo’”. In: LOURO, Guacira (Org.) O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2016. p. 151-172.
CHIANCA, Luciana. São João na cidade: ensaios e improvisos sobre a festa junina. João Pessoa: EDUFPB, 2013.
CLIFFORD, James. A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século XX. Rio de Janeiro: EDUFRJ, 2011 [1994].
CLIFFORD, James; MARCUS, George (Orgs.). A escrita da cultura: poética e política da etnografia. Rio de Janeiro: EDUERJ/Papéis Selvagens, 2017 [1986].
CONFEBRAQ. I Concurso Nacional de Casais de Noivos Juninos, 2015b.
CONFEBRAQ. I Concurso Nacional de Rainha Junina da Diversidade, 2015c.
CONFEBRAQ. Regulamento do IV Concurso Nacional de Rainhas Juninas, 2015d.
CONFEBRAQ. Regulamento do XII Concurso Nacional de Quadrilhas Juninas, 2016a.
CONFEBRAQ. Regulamento do V Concurso Nacional da Rainha Junina, 2016b.
CONFEBRAQ. Regulamento do II Concurso Nacional de Rainha Junina da Diversidade, 2016c.
CRAPANZANO, Vincent. “Estilos de interpretação e a retórica de categorias sociais”. In: MAGGIE, Yvonne; REZENDE, Claudia (Orgs.). Raça como retórica: a construção da diferença. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. p. 441-458.
CUNHA, Manuela Carneiro da. “‘Cultura’ e cultura: conhecimentos tradicionais e direitos intelectuais”. In: CUNHA, Manuela Carneiro da. Cultura com aspas e outros ensaios. São Paulo: Cosac Naify, 2009. p. 311-373.
DI DEUS, Eduardo. “Quadrilhas juninas como um movimento de juventude em Rio Branco, Acre”. Sociedade e Cultura, v. 17, n. 1, p. 75-85, 2014.
FCP. Regulamento Geral do Arraial de todos os santos/2016. XIII Concurso Estadual de Quadrilhas Juninas. Categorias: adultas, mirins e miss, 2016.
FUMBEL. Regulamento Geral do Concurso de Quadrilhas Juninas Mirins e Adultas de Belém, 2014a.
FUMBEL. Regulamento Geral do Concurso de Misses Juninas Adultas e Mirins, 2014b.
FUMBEL. Manual de Jurados, 2014c.
FUMBEL. Regulamento do Concurso de Miss Caipira da Melhor Idade, 2014d.
GARRA JUNINA. Regulamento do Concurso Soberanas do São João, 2015.
GOMES, Elielton. Adeus Maio! Salve Junho!: narrativas e representações dos festejos juninos em Belém do Pará nos anos de 1950. 2016. Dissertação (Mestrado em História Social da Amazônia) – Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia. Faculdade de História da UFPA, Universidade Federal do Pará, Belém, PA, Brasil.
HENNING, Carlos Eduardo. “Is old age always already heterossexual (and cisgender)? The LGBT Gerontology and the formation of the ‘LGBT elders’”. Vibrant, v. 13, n. 1, p. 132-154, 2016.
HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2012 [1983].
KULICK, Don. Travesti: prostituição, sexo, gênero e cultura no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008.
KUPER, Adam. Cultura, a visão dos antropólogos. Bauru: EDUSC, 2002.
LEAL, Eleonora. Contando o tempo: a evolução coreográfica das quadrilhas juninas em Belém do Pará. 2004. Dissertação (Mestrado em Artes Cênicas) – Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, Escola de Dança e Teatro da UFBA, Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, Brasil.
LEITE JR., Jorge. Nossos corpos também mudam: a invenção das categorias “travesti” e “transexual” no discurso científico. São Paulo: Annablume, 2011.
LIMA, Elizabeth. A festa de São João nos discursos bíblico e folclórico. Campina Grande: EDUFCG, 2010.
LIMA, Luiza. A ‘verdade’ produzida nos autos: uma análise sobre decisões judiciais sobre retificação de registro civil de pessoas transexuais em Tribunais brasileiros. 2015. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
LOWENKRON, Laura; FERREIRA, Letícia. “Anthropological perspectives on documents: ethnographic dialogues on the trail of police papers”. Vibrant, v. 11, n. 2, p. 76-112, 2014.
MENEZES NETO, Hugo. “Música e festa na perspectiva das quadrilhas juninas de Recife”. Anthropológicas, v. 26, n. 1, p. 103-133, 2015.
NASCIMENTO, Suely. “Será que ele é?”. O Liberal, Caderno Troppo, 10 jun., Belém, 2001, p. 16-18.
NÓBREGA, Zulmira. A festa do maior São João do mundo: dimensões culturais da festa junina na cidade de Campina Grande. 2010. Tese (Doutorado em Cultura e Sociedade) – Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade, Faculdade de Comunicação da UFBA, Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, Brasil.
NOLETO, Rafael da Silva. “‘Quero ficar no teu corpo feito tatuagem’: cantoras brasileiras, fãs homossexuais e performatividades”. In: NOGUEIRA, Isabel Porto; FONSECA, Susan Campos (Orgs.). Estudos de gênero, corpo e música: abordagens metodológicas. Goiânia/Porto Alegre: ANPPOM, 2013. p. 203-232.
NOLETO, Rafael da Silva. “‘Brilham estrelas de São João!’: notas sobre os concursos de ‘Miss Caipira Gay’ e ‘Miss Caipira Mix’ em Belém (PA)”. Sexualidad, salud y sociedad – Revista Latino-Americana, n. 18, p. 74-110, 2014. DOI 10.1590/1984-6487.sess.2014.18.06.a. Acesso em 26/05/2019.
NOLETO, Rafael da Silva. Brilham estrelas de São João: gênero, raça e sexualidade em performance nas festas juninas de Belém – PA. 2016. Doutorado (Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
NOLETO, Rafael da Silva. “Casamento em performance, parentesco em questão: gênero e sexualidade no São João de Belém, Pará”. Cadernos Pagu, n. 51, e175120, 2017. DOI 10.1590/18094449201700510020. Acesso em 26/05/2019.
NOLETO, Rafael da Silva. “Cor de jambo e outros matizes amazônicos: sobre a abolição da mulata e o advento da morena cheirosa nas festas juninas de Belém”. Mana, v. 24, n. 2, p. 132-173, 2018a. DOI 10.1590/1678-49442018v24n2p132. Acesso em 26/05/2019.
NOLETO, Rafael da Silva. “Limites do gênero, fronteiras da sexualidade: heterossexualidade e cisgeneridade coreográfica na quadra junina de Belém”. In: SAGGESE, Gustavo; MARINI, Marisol; LORENZO, Rocio; SIMÕES, Julio; CANCELA, Cristina (Orgs.). Marcadores sociais da diferença: gênero, sexualidade, raça e classe em perspectiva antropológica. São Paulo: Terceiro Nome/Gramma, 2018b. p. 287-305.
PEIRANO, Mariza. “‘Sem lenço, sem documento’: cidadania no Brasil”. In: PEIRANO, Mariza. A teoria vivida e outros ensaios de antropologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006. p. 121-134.
RICH, Adrienne. “Heterossexualidade compulsória e existência lésbica”. Bagoas, v. 5, p. 17-44, 2010.
SIQUEIRA, Mônica Soares. Arrasando horrores! Uma etnografia das memórias, formas de sociabilidades e itinerários urbanos de travestis das antigas. 2009. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Faculdade de Ciências Sociais da UFSC, Universidade Federal de Florianópolis, Florianópolis, SC, Brasil.
SOUZA LIMA, Antônio Carlos de. “Apresentação”. Revista de Antropologia, v. 55, n. 2, p. 559-564, 2012. (Dossiê Fazendo Estado)
VENCATO, Anna Paula. Fervendo com as drags: corporalidade e perfomances de drag queens em territórios gays da Ilha de Santa Catarina. 2002. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Faculdade de Ciências Sociais da UFSC, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.
VENCATO, Anna Paula. “Confusões e Estereótipos: o ocultamento de diferenças na ênfase de semelhanças entre transgêneros”. Cadernos AEL, v. 10, n. 18/19, p. 185-218, 2003.
VENCATO, Anna Paula. Sapos e princesas: prazer e segredo entre praticantes de crossdressing no Brasil. São Paulo: Annablume, 2013.
VIANNA, Adriana. “Etnografando documentos: uma antropóloga em meio a processos judiciais”. In: CASTILHO, Sérgio; LIMA, Antônio Carlos de Souza; TEIXEIRA, Carla (Orgs.). Antropologia das práticas de poder: reflexões etnográficas entre burocratas, elites e corporações. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2014. p. 43-70.
WAGNER, Roy. A invenção da cultura. São Paulo: Cosac Naify, 2012 [1975].
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
A Revista Estudos Feministas está sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0) que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico.
A licença permite:
Compartilhar (copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato) e/ou adaptar (remixar, transformar, e criar a partir do material) para qualquer fim, mesmo que comercial.
O licenciante não pode revogar estes direitos desde que os termos da licença sejam respeitados. Os termos são os seguintes:
Atribuição – Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se foram feitas mudanças. Isso pode ser feito de várias formas sem, no entanto, sugerir que o licenciador (ou licenciante) tenha aprovado o uso em questão.
Sem restrições adicionais - Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo permitido pela licença.