Regulação do corpo feminino no almanaque de farmácia d’A Saúde da Mulher

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DOI:

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n157854

Resumo

Neste artigo são discutidos aspectos da regulação do corpo da mulher entre o final do século XIX e meados do XX, a partir da análise de uma seleção de números do almanaque de farmácia intitulado d’A Saude da Mulher. A publicação era uma das mais lidas pelas senhoras e veiculava o medicamento mais popular da indústria nacional voltado para sua saúde. Apresentava anúncios de medicamentos, horóscopos, ilustrações, cartas de leitoras, entre outras variedades. Envoltos de discursos morais, atuaram como dispositivo pedagógico, ensinando, inspirando e regulando comportamentos e modelando subjetividades, principalmente as das mulheres, que deveriam ser dóceis, boas mães, esposas e cuidadoras do lar. Este artigo argumenta como os almanaques atuaram como instrumentos de regulação, educando e medicalizando o corpo feminino, disseminando ideais de feminilidade e virilidade, família, saúde, higiene e progresso nacional.

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Biografia do Autor

Beatriz Oliveira Santos, Universidade Federal do Ceará

Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará. Mestra em Psicologia na Universidade Federal do Ceará. Estudos voltados para Psicologia Social, Gênero, História, Narrativas, Análise de discurso, Saúde Mental.

Idilva Maria Pires Germano, Universidade Federal do Ceará

Doutora em Sociologia. Professora Titular do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFC.

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Publicado

2020-06-05

Como Citar

Santos, B. O., & Germano, I. M. P. (2020). Regulação do corpo feminino no almanaque de farmácia d’A Saúde da Mulher. Revista Estudos Feministas, 28(1). https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n157854

Edição

Seção

Artigos