Tecelãs da existência
DOI:
https://doi.org/10.1590/%25xResumo
Neste ensaio, entrelaço fios de vidas das mulheres negras que estão atadas ao fio da
minha vida. Com os fios soltos das canções de Zezé Motta e dos escritos da filósofa Hannah
Arendt, teço este texto-existência. Na leitura dos ensaios e poemas de Marlene Nourbese Philip,
escritora afro-caribenha, me inspiro não só para resistir às amarras culturais hegemônicas,
mas também para transcendê-las, criando possibilidades de escrita que vincule a dinâmica da
fala com a dinâmica da ação, compondo um texto que se movimenta ora como dança, através
do espaço, ora como uma canção, ritmada pelo tempo, pois criar e dançar uma coreografia
é uma forma de fazer história. Como investiga Selma Treviños, trata-se de uma ferramenta para
animar o passado ou uma “escrita” acerca de algo que já foi feito, se concordamos que cada
corpo carrega sua própria história e individualidade, memória, sentimentos e emoções. Na
busca do entendimento desta minha breve existência, danço, escrevo, teço palavras com fios
desfiados da flor do útero das minhas ancestrais. Vasculho minhas lembranças e, na memória
corporal, decifro a dor, encontro a raiz da violência, observo o medo, destilo a alegria, enfeito
a doçura, mergulho na paz e conheço a liberdade.
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