Pânicos de gênero, tecnologias de corpo: regulações da feminilidade no esporte

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2021v29n279320

Resumo

Este artigo apresenta uma revisão documental e bibliográfica de parte do histórico de gestão da feminilidade no esporte de alto rendimento. Nesse sentido, é preciso acompanhar como nasce o movimento olímpico. Uma recapitulação necessária para saber de onde vem e como se estrutura a necessidade de controle dos corpos atléticos das mulheres. Com a defesa de certos valores pautados no dimorfismo sexual, entenderemos como a ciência e a medicina auxiliaram na estabilização de fronteiras biológicas, sociais e esportivas. Contudo, à medida que esse conhecimento se transforma, todo um emaranhado regulatório também é atualizado em torno da elegibilidade das mulheres no esporte. A condução do artigo aposta na interpretação de que a proteção da categoria feminina no esporte se fez tanto por meio da suspeição quanto pela justiça, com a linguagem dos direitos sendo cada vez mais incorporada.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Barbara Gomes Pires, Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional/UFRJ

Pesquisadora em estágio pós-doutoral no Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ). Doutora em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS/MN/UFRJ). Integra o Núcleo de Estudos em Corpos, Gêneros e Sexualidades (NuSEX) e o Observatório Intersexo. Pesquisa experiências de intersexualidade na ciência, no hospital e no esporte.

Referências

ADELMAN, Miriam. “Mulheres atletas: re-significações da corporalidade feminina”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 11, n. 2, p. 445-465, dez. 2003.

BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2007.

BOURDIEU, Pierre. “Como se pode ser desportista?”. In: BOURDIEU, Pierre. Questões de Sociologia. Lisboa: Fim de Século Edições, 2003. p. 181-204.

BOYKOFF, Jules. Power games: a political history of the Olympics. London: Verso Books, 2016.

BUTLER, Judith. Corpos que importam: os limites discursivos do “sexo”. São Paulo: N-1 Edições, 2019.

CAHN, Susan K. Coming on strong: gender and sexuality in twentieth-century women’s sports. Cambridge: Harvard University Press, 1994.

CAMARGO, Wagner; KESSLER, Cláudia. “Além do masculino-feminino: gênero, sexualidade, tecnologia e performance no esporte”. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 23, n. 47, p. 191-225, abr. 2017.

CARPENTIER, Florence; LEFÈVRE, Jean-Pierre. “The modern Olympic movement”. The International Journal of the History of Sport, v. 23, n. 7, p. 1.112-1.127, out. 2006.

CHAPELLE, Albert de la. “The use and misuse of sex chromatin screening for ‘gender identification’ of female athletes”. JAMA, v. 256, n. 14, p. 1.920-1.923, 1986.

CORTEZ, Marina. Dualidade ou constelação? Intersexualidade, feminismo e biomedicina: uma análise bioética. 2015. Mestrado (Programa de Pós-graduação em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva) - Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

DEVIDE, Fabiano. “Coubertin e Samaranch: da exclusão à inclusão das mulheres nos Jogos Olímpicos Modernos”. Corpus et Scientia, v, 1, n. 1, p. 1-15, 2005.

DOUGLAS, Mary. Pureza e perigo. São Paulo: Editora Perspectiva, 2012.

ELIAS, Norbert; DUNNING, Eric. Quest for excitement: sport and leisure in the civilizing process. Oxford: Basil Blackwell, 1986.

FAUSTO-STERLING, Anne. Sexing the body: gender politics and the construction of sexuality. New York: Basic Books, 2000.

FOUCAULT, Michel. Os anormais. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

FOUCAULT, Michel. Herculine Barbin: being the recently discovered memoirs of a nineteenth-century French hermaphrodite. New York: Pantheon Books, 1980.

GENEL, Myron. “Gender verification no more?”. Medscape Women’s Health, v. 5, n. 3, E2, May/Jun. 2000.

GUTTMANN, Allen. Sports: the first five millennia. Amherst: Boston University Press, 2005.

GUTTMANN, Allen. The Olympics: a history of the modern games. Urbana: University of Illinois Press, 1992.

HALBERSTAM, Jack. Female masculinity. Durham: Duke University Press, 1998.

HARAWAY, Donna. “‘Gênero’ para um dicionário marxista: a política sexual de uma palavra”. Cadernos Pagu, Campinas, n. 22, p. 201-246, 2004.

HARAWAY, Donna. “Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial”. Cadernos Pagu, Campinas, n. 5, p. 7-41, 1995.

HARGREAVES, Jennifer. Sporting females: critical issues in the history and sociology of women’s sports. New York: Routledge, 2003 [1994].

HARGREAVES, Jennifer; ANDERSON, Eric (Eds.). Routledge handbook of sport, gender and sexuality. London/New York: Routledge, 2014.

HEGGIE, Vanessa. “Subjective sex: science, medicine and sex tests in sports”. In: ANDERSON, Eric; TRAVERS, Ann (Eds.). Transgender athletes in competitive sport. New York: Routledge, 2017. p. 131-142.

HENNE, Kathryn. “The emergence of moral technopreneurialism in sport: techniques in anti-doping regulation, 1966-1976”. The International Journal of the History of Sport, v. 31, n. 8, p. 884-901, 2014.

HENNE, Kathryn. “The origins of the IOC Medical Commission and its technocratic regime: an historiographic investigation of anti-doping regulation and enforcement in international sport”. Postgraduate Research Grant Programme, University of California, Irvine, 2009. Disponível em https://tinyurl.com/6krn9xnv. Acesso em 08/04/2021.

HOBERMAN, John. Testosterone dreams: rejuvenation, aphrodisia, doping. Berkeley: University of California Press, 2005.

IOC. INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE. Die Spiele: the official report of the Organizing Committtee for the Games of the XXth Olympiad. Volume 1: The organization. Munich, 1972a. Disponível em https://tinyurl.com/1jrn1ocx. Acesso em 15/07/2020.

IOC. INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE. Games of the XXII Olympiad: Official Report of the Organising Committee. Volume 2: Organisation. Moscow, 1980. Disponível em https://tinyurl.com/ytumpdxr. Acesso em 14/07/2020.

IOC. INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE. “Statement of the Stockholm consensus on sex reassignment in sports”. Olympic - Medical and Scientific Commission [online]. 2003.

Disponível em https://stillmed.olympic.org/Documents/Reports/EN/en_report_905.pdf. Acesso em 14/07/2020.

IOC. INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE. The Official Report of the Centennial Olympic Games. Volume I: Planning and organizing. Atlanta, 1996. Disponível em https://tinyurl.com/2echjpgm. Acesso em 14/07/2020.

IOC. INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE. The XI Olympic Winter Games. Volume 3: Medical and Sanitation Services. Sapporo, 1972b. Disponível em https://tinyurl.com/49mvb783. Acesso em 15/07/2020.

IOC. INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE. X Olympic Winter Games: Official Results. Grenoble: Comité d’Organisation des Xes Jeux Olympiques d’Hiver, 1968. Disponível em https://tinyurl.com/y9lcba3e. Acesso em 15/07/2020.

KARKAZIS, Katrina et al. “Out of bounds: a critique of the new policies on hyperandrogenism in elite”. The American Journal of Bioethics, v. 12, n. 7, p. 3-16, 2012.

LAURETIS, Teresa de. “Tecnologia do gênero”. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de (Org.). Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. p. 206-242.

LENSKYJ, Helen. Out of bounds: women, sport and sexuality. Toronto: Canadian Scholars’ Press, 1986.

LJUNGQVIST, Arne. “Sex segregation and sport”. British Journal of Sports Medicine, v. 52, n. 3, 2018.

LJUNGQVIST, Arne; SIMPSON, Joe Leigh. “Medical examination for health of all athletes replacing the need for gender verification”. JAMA, v. 267, n. 6, p. 850-852, Feb. 1992.

MARTÍNEZ-PATIÑO, María José. “Personal account: a woman tried and tested”. The Lancet, v. 366, Special Issue, S38, Dec. 2005.

MITCHELL, Sheila. “Women’s participation in the Olympic Games 1900-1926”. Journal of Sport History, v. 4, n. 2, p. 208-228, 1977.

MONTEIRO, Marko. Os dilemas do humano: reinventando o corpo numa era (bio)tecnológica. 2005. Doutorado (Ciências Sociais) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.

PARK, Roberta J.; MANGAN, J. A. From fair sex to feminism: sport and the socialization of women in the industrial and post-industrial eras. New York: Routledge, 2013 [1987].

PIEPER, Lindsay. Sex testing: gender policing in women’s sports. Urbana-Champaign: University of Illinois Press, 2016.

PIRES, Barbara Gomes. A Gestão da Integridade: corpo, sujeição e regulação das variações intersexuais no esporte de alto rendimento. 2020a. Doutorado (Antropologia Social) - Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

PIRES, Barbara Gomes. Distinções do desenvolvimento sexual: percursos científicos e atravessamentos políticos em casos de intersexualidade. 2015. Mestrado (Antropologia Social) - Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

PIRES, Barbara Gomes. “O legado das regulações esportivas: diagnóstico e consentimento na elegibilidade da categoria feminina”. Sexualidad, Salud y Sociedad, Rio de Janeiro, n. 35, p. 283-307, ago. 2020b.

ROHDEN, Fabíola. “O império dos hormônios e a construção da diferença entre os sexos”. História, Ciências, Saúde, Rio de Janeiro, v. 15, supl., p. 133-152, 2008.

ROHDEN, Fabíola. Uma ciência da diferença: sexo, contracepção e natalidade na medicina da mulher. 2000. Doutorado (Antropologia Social) - Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

RUBIN, Gayle. “Pensando o sexo: notas para uma teoria radical das políticas da sexualidade”. Cadernos Pagu, Campinas, n. 21, p. 1-88, 2003.

RUBIO, Katia; SIMÕES, Antônio Carlos. “De espectadoras a protagonistas: a conquista do espaço esportivo pelas mulheres”. Movimento, v. 5, n. 11, 1999.

RUSSO, Jane. “A terceira onda sexológica: medicina sexual e farmacologização da sexualidade”. Sexualidad, Salud y Sociedad, Rio de Janeiro, n. 14, p. 172-194, ago. 2013.

SALVINI, Leila; SOUZA, Juliano; MARCHI JUNIOR, Wanderley. “A violência simbólica e a dominação masculina no campo esportivo: algumas notas e digressões teóricas”. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 26, n. 3, p. 401-410, set. 2012.

SILVEIRA, Viviane; VAZ, Alexandre. “Doping e controle de feminilidade no esporte”. Cadernos Pagu, Campinas, n. 42, p. 447-475, jun. 2014.

VERTINSKY, Patricia. The eternally wounded woman: women, doctors, and exercise in the late nineteenth century. Illinois: University of Illinois Press, 1994.

WEEKS, Jeffrey. Sexuality and its discontents: meanings, myths & modern sexualities. London: Routledge & Keagan Paul, 1985.

WRYNN, Alison. “The human factor: science, medicine, and the IOC, 1900-70”. Sport in Society, v. 7, n. 2, p. 211-231, 2004.

Downloads

Publicado

2021-10-21

Como Citar

Pires, B. G. (2021). Pânicos de gênero, tecnologias de corpo: regulações da feminilidade no esporte. Revista Estudos Feministas, 29(2). https://doi.org/10.1590/1806-9584-2021v29n279320

Edição

Seção

Gênero, tecnologias e (novas) formas de subjetivação nas práticas esportivas