A escrita de si como prática de uma literatura menor: cartas de Anita Malfatti a Mário de Andrade
DOI:
https://doi.org/10.1590/S0104-026X2011000100007Resumo
No interior de uma cultura falocêntrica a escrita epistolar foi considerada peloscríticos literários uma literatura menor. Por sua vez, os historiadores entenderam por longosanos as cartas pessoais como uma fonte de pesquisa inapropriada ao conhecimento histórico.Neste texto, procuro positivar a literatura de si oriunda das correspondências originadas noâmbito privado, destacando que essa forma de produção literária pode ser tão transgressivaquanto a denominada “grande literatura”, isto é, aquela que visa transpor os limites da linguagem,pois nesse caso específico trata-se de recriar a nós mesmos, de transpor as fronteiras do quesomos no espaço intersubjetivo da troca epistolar e da amizade. Assim, interpreto as cartaspessoais da artista plástica paulista Anita Malfatti (1889-1964) endereçadas ao escritor modernistaMário de Andrade (1893-1945) como uma literatura menor, no sentido apontado por GillesDeleuze e Felix Guattari. Essa escrita de caráter privado está associada à construção de umaescultura de si, de uma estética da existência para usar o conceito formulado por MichelFoucault. Portanto, leio a literatura de si das cartas da artista plástica como uma escrituracontra-hegemônica e política, pois nas linhas de suas missivas o enredo que se compõe é o daprodução de uma subjetividade feminina autônoma que resiste às subjetivações ligadas àfamília, ao Estado e à Igreja.
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