Reflexões sobre a cegueira na Cultura Digital: parafraseando José Saramago
DOI:
https://doi.org/10.5007/1807-9288.2024.e99663Palavras-chave:
Cultura Digital, Literatura, Byung-Chul Han, José SaramagoResumo
As tecnologias digitais transformaram o modo como as pessoas passaram a se organizar e a se comunicar atualmente, influenciando diversas áreas do conhecimento e o que é produzido na e pela cultura digital. Entretanto, os webconsumidores vivem as consequências do que poderia ser considerado prejudicial às relações sociais de nosso tempo, os excessos. Nessa perspectiva, o romance alegórico Ensaio sobre a cegueira (1995), de José Saramago, apresenta uma cegueira branca que afetou uma cidade inteira. Essa cegueira representaria, na concepção criativa do escritor português, o excesso de razão, cujo resultado seria a insensibilização das pessoas. Poderíamos, então, considerar que Saramago estaria, por meio dessa narrativa, prevendo um desenvolvimento caótico para a sociedade pós-moderna ou apenas expressando uma visão pessimista a respeito da humanidade? Objetivamos tecer um diálogo entre algumas ideias apresentadas no livro Ensaio sobre a cegueira e aspectos do contexto digital contemporâneo, e refletir sobre as interações interpessoais nas mídias digitais à luz da alegoria saramaguiana e de estudiosos do meio digital. Para tanto, recorremos à pesquisa qualitativa, de caráter bibliográfico, cujo aporte teórico baseia-se nos estudos de Fisher (2023), Hissa e Araújo (2021), O’Neil (2020), Bridle (2019) e Han (2015). Mediante as análises realizadas, obtivemos como resultados a percepção de que a cegueira da razão, apresentada neste romance, assemelha-se aos excessos produzidos no contexto digital. Estes excessos podem levar ao adoecimento dos usuários e à falta de alteridade. Concluímos que, em contraposição a essa situação, faz-se necessária a “pedagogia do olhar”, proposta por Han (2015).
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