Desculpa, não! Desculpe! Um caso de conflito na interação entre brasileiros e portugueses em Portugal

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8420.2024.e100430

Palavras-chave:

Imperativo, Nominalização, Variação Português Europeu / Português Brasileiro, Gramática Cognitiva, Linguística Cognitiva

Resumo

O ponto de partida deste artigo é o estudo proposto por Oliveira e Batoréo (2014) no âmbito da Linguística Funcional com foco nas construções VLoc e LocV em duas variedades nacionais do português: o português brasileiro (PB) e o português europeu (PE). Nossa proposta, inspirada no artigo original, discute apenas a construção VLoc e explora a hipótese incidental de que, no PB, desculpa não seja uma forma verbal, e sim nominal. A discussão aqui apresentada parece explicar conflitos observados em Portugal em alguns casos de interação verbal entre brasileiros e portugueses. A análise proposta se enquadra na Gramática Cognitiva, um modelo da Linguística Cognitiva. Articula, por um lado, diferentes normas do imperativo em seu status sociocognitivo e, por outro, a nominalização de verbos. O status sociocognitivo aqui discutido consiste em gradiente rotinização e gradiente convencionalidade. Nossa proposta reforça a hipótese original, mas dissocia a distribuição de desculpa (V) e desculpa (S) da construção VLoc.

Referências

ALMEIDA, M. L. L.; LEMOS DE SOUZA, J. Prefxos, preposições e heterossemia. Cadernos do NEMP, Rio de Janeiro, n. 6, v. 1, 2015, p. 5-16.

BARBOSA, P.; SANTOS, P.; VELOSO, R. Tipos de frase e força ilocutória. In: RAPOSO, E. B. P.; NASCIMENTO, M. F. B.; MOTA, M. A. C.; SEGURA, L.; MENDES, A.; ANDRADE, A. Gramática do português. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, v. III, 2020, p. 2517-2588.

BASILIO, M. Estruturas lexicais do português. Petrópolis: Vozes, 1980.

BASILIO, M. Polissemia sistemática em substantivos deverbais. Ilha do Desterro, Florianópolis, n. 47, 2004, p. 49-71.

BASILIO, M. O papel da metonímia na morfologia lexical. ReVEL, edição especial, n. 5, 2011, p. 99-117.

BASILIO, M.; MARTINS, H. Verbos denominais no português falado. In: KOCH, I. Gramática do português falado: os desenvolvimentos. Campinas: UNICAMP/FAPESP, v. VI, 1996.

BATORÉO, H. Expressão do espaço no português europeu: contributo psicolinguístico para o estudo da linguagem e cognição. Lisboa: FCT / Fundação Calouste Gulbenkian, [1996] 2000.

BATORÉO, H. A linguística cognitiva e o mito da linguagem como instinto. In: BATORÉO, H. (org.). LINGUAGEM – COGNIÇÃO – CULTURA: teorias, aplicações e diálogos com foco na língua portuguesa. Lisboa: FCT, 2022, p. 27-45.

BROCCIAS, C.; HOLLMANN, W. B. Do we need summary and sequential scanning in (Cognitive) grammar? Cognitive Linguistics, v. 18, n. 4, 2007, p. 487-522.

DAVIES, M.; FERREIRA, M. Corpus do Português (45 milhões de palavras, sécs. XIVXX), 2006. Disponível em htp://www.corpusdoportugues.org.

GARCEZ, P. Perspectiva da Análise da Conversa Etnometodológica sobre o uso da linguagem em interação. In: LODER, L. L.; JUNG, N. M. (org.). Fala-em-interação social: introdução à Análise da Conversa Etnometodológica. Campinas: Mercado das Letras, 2008.

GEERAERTS, D. Methods in Cognitive Linguistics. In: KRISTIANSEN, G.; ACHARD, M.; DIRVEN, R.; IBÁÑEZ, F. J. R. (ed.). Cognitive Linguistics: current applications and future perspectives. Berlin, New York: Mouton de Gruyter, 2006, p. 21-50.

GRONDELAERS, S.; GEERAERTS, D.; SPEELMAN, D. A case for a cognitive corpus linguistics. In: GONZALEZ-MARQUEZ, M.; MITELBERG, I.; COULSON, S.; SPIVEY, M. J. (ed.). Methods in Cognitive Linguistics. Amsterdam, Philadelphia: John Benjamins, 2006, p. 149-170.

ITKONEN, E. Te central role of normativity in language and linguistics. In: ZLATEV, J.; RACINE, T. P.; SINHA, C.; ITKONEN, E. (ed.). Te shared mind: perspectives on intersubjectivity. Amsterdam, Philadelphia: John Benjamins, 2008.

JACKENDOFF, R. Semantics and cognition. Cambridge, London: MIT Press, 1983.

JACKENDOFF, R. Conceptual semantics and cognitive linguistics. Cognitive Linguistics, v. 7, n. 1, 1996, p. 93-129.

LAKOFF, G. Women, fre, and dangerous things: what categories reveal about the mind. Chicago: Te University of Chicago Press, 1987.

LANGACKER, R. Foundations of cognitive grammar. V. I: theoretical prerequisites. Stanford: Stanford University Press, 1987.

LANGACKER, R. Culture, cognition, and grammar. In: PÜTZ, M. (ed.). Language contact and language confict. Amsterdam: Philadelphia: John Benjamins, 1994, p. 25-54.

LANGACKER, R. A usage-based model. In: RUDZK-OSTYN, B. (ed.). Topics in Cognitive Linguistics, Current Issues in Linguistic Teory, n. 50. Amsterdam: Benjamins, 1988, p. 127-161.

LANGACKER, R. A dynamic usage-based model. In: BARLOW, M.; KREMMER, S. (ed.). Usage-based models of language. Stanford, California: CSLI Publications, 2000, p. 1-64.

LANGACKER, R. Cognitive Grammar: a basic introduction. Oxford: Oxford University Press, 2008a.

LANGACKER, R. Sequential and summary scanning: a reply. Cognitive Linguistics, v. 19, n. 4, 2008b, p. 571-584.

LANGACKER, R. Investigations in cognitive grammar. Berlin, New York: Mouton de Gruyter, 2009.

LEMOS DE SOUZA, J. A distribuição semântica dos substantivos deverbais em -ção e -mento no português do Brasil: uma abordagem cognitiva. Tese (Doutorado em Língua Portuguesa), Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2010.

LEMOS DE SOUZA, J. Alinhamento, balanceamento, direção e suspensão: constatações sobre os substantivos deverbais no português brasileiro. Linguística, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, 2012, p. 62-75.

LEMOS DE SOUZA, J. Provocações morfológicas à gramática cognitiva. Diadorim, Rio de Janeiro, v. 22, n. 2, 2020a, p. 303-322.

LEMOS DE SOUZA, J. O debate deriva/contato na história do português brasileiro. Alfa, Araraquara, v. 64, 2020b, p. 1-24.

LICHTENBERK, F. Semantic change and heterosemy in grammaticalization. Language, v. 67, n. 3, 1991, p. 475-509.

Linguateca. Disponível em htps://www.linguateca.pt/ACDC/.

MONDADA, L. Challenges of multimodality: language and the body in social interaction. John Wiley & Sons Ltd, 2016, p. 336-367.

MUNIZ, K. Ainda sobre a possibilidade de uma linguística “crítica”: performatividade, política e identifcação racial no Brasil. In: MELO, G. C. V.; JESUS, D. M. (org.). Linguística Aplicada, raça e interseccionalidade na contemporaneidade. Rio de Janeiro, Mórula, v. I, 2022.

OLIVEIRA, M. R.; BATORÉO, H. Construções com pronomes locativos (LOC) do tipo LOCV e VLOC no PB e no PE: correspondências e distinções. Linguística, v. 30, n. 2, 2014, p. 171-208.

PEDERSON, E. Cognitive Linguistics and linguistic relativity. In: GEERAERTS, D.; CUYCKENS, H. (ed.). Te Oxford Handbook of Cognitive Linguistics. Oxford, New York: Oxford University Press, 2007, p. 1012-1044.

PEREIRA, R. Formação de verbos. In: RIO-TORTO, G.; RODRIGUES, A. S.; PEREIRA, I.; PEREIRA, R.; RIBEIRO, S. Gramática derivacional do português. Coimbra: Universidade de Coimbra, 2013, p. 265-320.

RESENDE, M.; ILARI, R. Mudança semântica e formação de palavras. Letras, Santa Maria, v. 30, n. 60, 2020, p. 247-263.

RODRIGUES, A. S. Introdução. In: RIO-TORTO, G.; RODRIGUES, A. S.; PEREIRA, I.; PEREIRA, R.; RIBEIRO, S. Gramática derivacional do português. Coimbra: Universidade e Coimbra, 2013, p. 29-116.

RUMEU, M. C. Formas variantes do imperativo de segunda pessoa nos séculos XIX eXX: a expressão do social. Signum, Londrina, v. 19, n. 2, 2016, p. 310-341.

SCHERRE, M.; CARDOSO, D. B.; LUNGUINHO, M. V.; SALLES, H. M. Reflexões sobre o imperativo em português. D.E.L.T.A., São Paulo, v. 23, n. esp., 2007, p. 193-241.

SILVA, E. N. Formas imperativas de segunda pessoa no português brasileiro.Tese (Doutorado em Língua Portuguesa), Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017.

SOARES DA SILVA, A. O mundo dos sentidos em português: polissemia, semântica e cognição. Coimbra: Almedina, 2006.

VELOZO, N.; BERNARDO, S. De magis a mais: categorização, heterossemia e polissemia. Veredas, Juiz de Fora, v. 18, n. 2, 2014.

Downloads

Publicado

2024-12-20