Neve para refrescar: reflexões sobre relatividade linguística condicionada pelo ambiente no estudo científico das línguas humanas

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DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8420.2017v18n1p140

Resumo

Este trabalho pretende, através de uma análise da controvérsia a respeito da quantidade de palavras existentes em esquimó para referir-se a neve, fazer uma reflexão sobre as noções de palavra, significado e relatividade linguística, conforme definidas na hipótese Sapir-Whorf, e em relação com a lexicografia. Após explorar os primórdios da controvérsia com base nas formulações de Franz Boas no final do séc. XIX, o exemplo é utilizado para investigar o possível efeito que a estrutura gramatical e o léxico de uma língua podem ter sobre a maneira como os falantes desta língua percebem o mundo, já que estes aspectos do conhecimento linguístico seriam condicionados pelo meio ambiente no qual os falantes desta língua vivem. As contestações frequentemente sarcásticas sobre a associação entre estes aspectos da hipótese Sapir-Whorf e a quantidade de palavras para referir-se a neve em esquimó são discutidas, com uso intensivo de material relacionado a parâmetros bem estabelecidos da tipologia linguística. Elementos novos revelados por pesquisas recentes são incorporados à análise do condicionamento cultural e ambiental da semântica lexical das línguas. Estas investigações atuais parecem na verdade corroborar as conclusões iniciais de Boas quanto à grande variedade de palavras para referir-se a neve em esquimó, em termos de distinções significativas, tanto morfológicas quanto semânticas. A discussão conclui com uma ênfase na importância do conhecimento humano expresso por estas distinções, a despeito dos usos de tais informações em contextos não especializados, como palestras “inspiradoras” para profissionais de vendas, as quais seriam potencialmente equivocadas em termos de padrões científicos de estudo das línguas.

Biografia do Autor

Marco Antonio Esteves da Rocha, Universidade Federal de Santa Catarina

Docente do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas e do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina.

João Paulo Zarelli Rocha, Universidade Federal de Santa Catarina

Discente do curso de Letras-Português, PIBIC e auxiliar do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de Santa Catarina.

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Publicado

2017-09-18