Implicatura escalar e a lógica infantil
DOI:
https://doi.org/10.5007/1984-8420.2018v19n1p207Resumo
A aquisição de implicatura escalar sempre foi tema caro aos pesquisadores interessados em testar os limites entre a compreensão semântica e a pragmática das crianças. Em nosso experimento, aplicado a crianças de nove anos adquirindo português brasileiro, sentenças análogas contendo termos escalares fracos eram proferidas em contextos lower-bound e em contextos upper-bound, de maneira que tivemos oportunidade de testar a capacidade infantil de dar interpretação estritamente semântica (lower-bound) ou de implicatura escalar (upper-bound) aos termos escalares testados dependendo, apenas, da influência contextual. Identificamos nas crianças testadas sensibilidade contextual capaz de garantir interpretação semântica ou de implicatura escalar dependendo do contexto apresentado. Entretanto, uma dificuldade inesperada, por parte dos sujeitos, foi notada: como as histórias formadoras de contextos lower-bound continham porções cujo entendimento requeria cálculo de consequências lógicas, menor sucesso na interpretação desses trechos foi apresentado pelas crianças. Temos, assim, indicativo de capacidade lógica inferencial bem desenvolvida nas crianças mediante desafios de interpretação linguística, tais como de implicatura escalar (a partir já dos quatro anos de idade, segundo Papafragou e Tantalou (2004), e de deficiente habilidade na computação de determinadas inferências não linguísticas, referentes a objetos ou eventos contextuais, ainda demonstrada por crianças de nove anos. Propomos que o componente exclusivo das inferências linguísticas que permite às crianças sucesso em sua computação seja o mindreading, a capacidade de identificar intenções alheias. Trata-se de uma proposta que encontra suporte na hipótese da Teoria da Relevância de existência de um sub-módulo de mindreading na cognição humana especializado na computação de inferências linguísticas.
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