O espaço liso e o diagrama aberto: A topologia poética de André Vallias
DOI:
https://doi.org/10.5007/2176-8552.2018n25p71Resumo
Segundo Roman Jakobson, a poesia estabelece sua qualidade diferencial por estar dotada de uma configuração (patterning) verbal subliminar – uma tessitura paralelística que ocasiona a justaposição de “figuras de gramática” e “figuras de som”. Esta padronagem verbal daria uma espécie de "esqueleto abstrato" ao corpo do poema. Quando, na semiose, a metalinguagem implica-se como material integrante do signo, o ato criativo acaba por se confundir com ela – os paralelismos entre linguagem e metalinguagem passam a gerar figuras de figuras, o "esqueleto" vira do avesso e faz proliferar imagens ou diagramas de similaridade. Movimentos desta magnitude costumam originar saltos criativos; é a partir de um destes saltos que André Vallias inaugura um novo espaço de imaginação poética. Na seqüência de poemas desta fase (em especial Nous n’avons pas compris Descartes e de verso), o universo intervalado da textura alfabética e das distribuições rítmicas ganha um ponto de contato com o universo contínuo das imagens: diagramas rítmicos, representantes in abstracto das oscilações de intensidade entre as sílabas, tornam-se eles mesmos poemas. É tal captura crítica que, a partir dos conceitos de "espaço liso" e "diagrama aberto", intentamos analisar, pensando em como Vallias transforma a imaginação fonética da página numa imaginação topológica.
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