Memória, Imagem e Arquivo: a potência arquivística da ficção de Décio Pignatari

Autores

  • Henrique Júlio Vieira Universidade Federal da Bahia

DOI:

https://doi.org/10.5007/2176-8552.2020.e73375

Resumo

Este texto analisa a produção do escritor Décio Pignatari, observando o desenvolvimento de uma potência arquivística em sua ficção, em diálogo com as reflexões desenvolvidas na teoria literária, psicanálise e na bibliografia dos textos. Considerando os pressupostos concretistas de antissubjetivismo e de equivalência entre a forma e o conteúdo na construção literária (isomorfismo), analisa-se as modulações desses princípios nos livros O rosto da memória e Panteros, de notório teor autoficcional. O princípio de isomorfismo, simultaneamente, atualiza e é atualizado pela relação entre a literatura e as escritas de si na contemporaneidade, pois, por um lado, insere à materialidade dos livros textualidades próprias a um arquivo pessoal e, por outro, recupera à cena do texto o sujeito enquanto um signo da composição autoficcional.

Referências

ARTIÈRES, Phillipe. Arquivar a própria vida. Revista Estudos Históricos: Arquivos Pessoais [online]. Rio de Janeiro, v. 11, n. 21, p. 9-34, 1998.

ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. In: ASSIS, Machado de. Obras Completas, vol. I. 9. reimpressão. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1997 pp. 807-944.

AZEVEDO, Luciene. Autoficção e literatura contemporânea. Revista Brasileira de Literatura Comparada, n. 12, 2008, pp. 31-49.

BALZAC, Honoré de. Uma paixão no deserto. Disponível em http://www.tyrannusmelancholicus.com.br/cronicas/9032/uma-paixao-no-deserto. Acesso em abril 2020.

BARBOSA, João Alexandre. O cânone na história da literatura brasileira. Organon. Revista do Instituto de Letras da UFRGS, v. 15, n. 30-31, 2001.

BARTHES, Roland. O Prazer do Texto. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2010.

BÍBLIA SAGRADA. Disponível em https://www.bible.com/pt/bible/1840/ROM.7.19-20.NAA. Acesso em abril de 2020.

BORGES, Jorge Luis. Funnes, o memorioso. In: BORGES, Jorge Luis. Ficções (1944). São Paulo: Compa-nhia das Letras, 2007, pp. 99-108.

CAIRO, Luiz Roberto Veloso. Memória cultural e construção do cânone literário brasileiro. SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 4, n. 8, pp. 32-44, 1º sem. 2001.

CAMPOS, Augusto de; PIGNATARI, Décio; CAMPOS, Haroldo de. Teoria da poesia concre-ta: textos críticos e manifestos 1950-1960. 5. ed. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2006.

COLONNA, Vincent. Tipologia da autoficção. In: NORONHA, Jovita Maria Gerheim. Ensaios sobre autoficção. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014, pp. 39-66.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2a. ed. São Pau-lo: Editora 34, 2012. 5 volumes.

DERRIDA, Jacques. A estrutura, o signo e o jogo no discurso das Ciências Humanas. In: DERRIDA, Jacques. A escritura e a diferença. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1995. pp. 229-249.

FAEDRICH, Anna. O conceito de autoficção: demarcações a partir da literatura brasileira con-temporânea. Itinerários, Araraquara, n. 40, p.45-60, jan./jun. 2015.

FAEDRICH, Anna. Autoficção: um percurso teórico. Criação & Crítica, n. 17, p. 30-46. 2016.

FOUCAULT, Michel. As técnicas de si. In: FOUCAULT, Michel. Dits et écrits. Paris: Gallimard, 1994, Vol. IV, pp. 783-813, por Karla Neves e Wanderson Flor do Nascimento. Disponível em https://cognitiveenhancement.weebly.com/uploads/1/8/5/1/18518906/as_tcnicas_do_si-_michel_foucault.pdf. Acesso em abril 2020.

FREUD, Sigmund. Uma nota sobre o ‘bloco mágico’ (1925 [1924]). In: FREUD, Sigmund. O Ego e o Id e outros trabalhos (1923-1925). Rio de Janeiro: Imago, 1996, pp. 251-259.

FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna. São Paulo: Livraria Duas Cidades.

HOISEL, Evelina. Teoria, crítica e criação literária: o escritor e seus múltiplos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2019.

KLINGER, Diana. A escrita de si como performance. Revista Brasileira de Literatura Com-parada, v. 10, n. 12, 2008, pp. 11-30.

JEANNELLE, Jean-Louis. A quantas anda a reflexão sobre a autoficção? In: NORONHA, Jovi-ta Maria Gerheim. Ensaios sobre autoficção. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014, pp. 127-162.

LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico: De Rousseau à Internet. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.

MARQUES, Reinaldo. O arquivo literário e as imagens do escritor. In: MARQUES, Reinaldo. Arquivos literá-rios: Teorias, histórias, desafios. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2015, pp. 87-113.

McKENZIE, Donald Francis. Bibliografia e Sociologia dos Textos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2018.

PIGNATARI, Décio. Panteros. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.

PIGNATARI, Décio. Errâncias. São Paulo: Editora SENAC, 2000.

PIGNATARI, Décio. Contracomunicação. 3. Ed. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2004a.

PIGNATARI, Décio. Poesia pois é poesia: 1950-2000. Cotia, SP: Ateliê Editorial; Campinas, SP: UNICAMP, 2004b.

PIGNATARI, Décio. O rosto da memória. 2. ed. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2014.

SELIGMANN-SILVA, Márcio. escrituras da história e da memória. In: SELIGMANN-SILVA, Márcio (Org.). Palavra e imagem: memória e escritura. Chapecó: Argos, 2006, pp. 205-225.

STAIGER, Emil. Conceitos Fundamentais da Poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977.

WINTER, Jay. a geração da memória: reflexões sobre o “boom da memória” nos estudos con-temporâneos de história. In: SELIGMANN-SILVA, Márcio (Org.). Palavra e imagem: memó-ria e escritura. Chapecó: Argos, 2006, pp. 67-90.

Downloads

Publicado

2021-08-26