Elida Tessler e 365: equilíbrio frágil de uma espera ou promessa de envios

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DOI:

https://doi.org/10.5007/2176-8552.2019.e73697

Resumo

Neste artigo, propomos um diálogo com a obra da artista Elida Tessler, especificamente seu trabalho 365, para refletir acerca de questões como envio e tempo. Essa instalação – localizada entre literatura e arte visual, palavra e imagem – nasce de um convite feito pela artista a seus interlocutores (conhecidos e desconhecidos) para que escolhessem uma carta entre os autores preferidos e lhe enviasse uma cópia por correio postal. Ela se pôs à espera desses envios durante o período de um ano – 365 dias –, entre 2014 e 2015, para então montar esse trabalho, com todas as cartas dispostas dentro de uma maleta enorme. Compreendemos esse gesto de Tessler, movido por afetos, como uma busca pelo equilíbrio frágil de uma espera, na demora desses envios que são, antes, promessa, contingência. Em seu processo criativo, ela propõe, a si e ao outro, novas temporalidades, escapando da cronologia e se aproximando de um tempo fluído, com suas múltiplas durações. Para aprofundar essa análise, evocamos a teoria de pensadores como Henri Bergson, Jacques Derrida, George Steiner, Giorgio Agamben, e outros.

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Publicado

2021-02-25