Um século após, ainda é preciso narrar o espanto: melancolia e interpelação no conto “Dentes negros e cabelos azuis”, de Lima Barreto

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2176-8552.2023.e94390

Palavras-chave:

Literatura Brasileira, Modernismo, Estudos Negros, Rio de Janeiro, Lima Barreto

Resumo

Embora à frente de seu tempo em vários sentidos, o escritor carioca Lima Barreto (1881 – 1922) é ainda hoje reduzido à categoria de “pré-modernista”. Pensando nisso, analiso o conto “Dentes negros e cabelos azuis”, publicado originalmente em 1918, com o objetivo de demonstrar a contribuição fundamental de Lima Barreto para uma literatura contrária à celebração acrítica do “progresso” durante a Primeira República (1889 – 1930). Para tanto, ofereço uma breve reflexão sobre o conflito de 1922 entre Lima Barreto e os modernistas de São Paulo. Em seguida, dedico-me ao espaço do subúrbio, à alegoria dos dentes negros e dos cabelos azuis e à interpelação entre os personagens do conto como uma possibilidade de denúncia ao racismo brasileiro. A tese central deste artigo é a de que o conto faz uso da relação antitética entre casa e rua para desenvolver uma série de outras antíteses, numa narrativa “em abismo” sustentada por oposições que refletem a própria contradição da modernidade brasileira. O horizonte teórico deste trabalho parte da tradição negra de caráter anticolonial e decolonial, como a cena de interpelação narrada por Frantz Fanon em Pele negra, máscaras brancas e as formulações teóricas de Achille Mbembe e Grada Kilomba.

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Publicado

2024-04-11

Edição

Seção

Modernismo brasileiro 100 anos: crítica, heranças, perspectivas