Por uma teoria literária Sankofa: utopia ou distopia?
DOI:
https://doi.org/10.5007/2176-8552.2024.e98707Palavras-chave:
Literatura negra, Negritude, SankofaResumo
Partindo da afirmação de Audre Lorde (2019) de que as ferramentas do colonizador não nos auxiliarão a uma mudança autêntica, proponho uma teoria literária a partir de Sankofa: a adinkra que representa simbólico-imageticamente um pássaro que voa para frente olhando para trás. Ao analisar as teorias utilizadas para a análise crítica de obras de autoria negra, percebo, ainda, a presença do colonial como centro, logo, proponho um expurgo do carrego colonial na teoria literária (Rufino, 2019). Para tanto, dialogo com pesquisas e conceitos já em voga como a amefricanidade (González, 2018); a oralitura (Martins, 1997); a escrevivência (Evaristo, 2007; 2010); com o afrorrizoma (Santos; Riso, 2013); com a literatura-terreiro (Freitas, 2016); com a estética de Orfe(x)u e/ou Exunoveau (Pereira, 2017); a literatura abébé (Sales, 2018; Cordeiro, 2023); ou com o afrofuturismo (Dery, 1994; Eshun, 2015; Nelson, 2020; Womack, 2015). Por fim, concluo a urgência de uma teoria literária enegrescida, seja ela Sankofa ou não, mas que rasure o passado, reavalie o presente e projete futuros negros.
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