Arquivos do corpo, arquivo da biopolítica/ Archives of body, archive of biopolitics

Conteúdo do artigo principal

Philippe Artières

Resumo

O conceito de biopolítica proposto por Foucault não só suscitou mal entendidos entre os historiadores como, além disso, nunca foi confrontado à questão dos arquivos susceptíveis de lhe dar corpo. O artigo se apoia, então, sobre três arquivos menores, à margem dos grandes corpus de esquadrinhamento e vigilância classicamente estudados. O primeiro desses arquivos é uma lista de práticas auto-eróticas de um jovem alemão invertido, do início do século XX. A confissão escrita participa de uma economia geral dos saberes homossexuais que se situam em torno de uma dupla instância do poder, ao mesmo tempo presa do controle médico e potencial ninho de resistência. O segundo arquivo da biopolítica é um fragmento de pele tatuada. Inscrita sobre o corpo de um soldado ou de um detento, a tatuagem engendra uma pesquisa ainda mais vasta dos signos distintivos, das marcas reconhecíveis. Aqui a política de identificação se confronta com as práticas de si numa ambiguidade renovada. Por fim, o terceiro arquivo biopolítico apresentado é uma carta de denúncia das práticas de prostituição em uma rua parisiense. O anonimato progressivo dessas missivas delatoras banaliza um modo de vigilância policial que integra o dispositivo de cartografia dos costumes adotados desde o final do século XIX.

ABSTRACT: The concept of biopolitics proposed by Foucault raised misunderstandings among historians, and the question of the archives that sustain it has never been tackled. This article relies on three minor archives, outside of the largest corpus of examinations and vigilance classically studied. The first of such archives constitutes a list of auto-erotic practices of an inverted German youth, in the beginning of the XXth century. The written confession is a part of a general economy of homosexual knowledge which circumscribe a double face of power, at the same time a victim of medical control and a potential niche of resistance. The second archive is a tattooed skin fragment inscribed in the body of a soldier or of a detainee, the tattoo propitiates an even larger research on distinct signs, recognizable marks. Here the politics of identification is confronted with the practices of self in a renewed ambiguity. Finally, the third biopolitical archive is a letter of resignation of prostitution practices in a Parisian street. The crescent anonymity of these letters vulgarizes a form of police vigilance that integrates the cartography of costumes adopted since the end of the XIXth century.

Detalhes do artigo

Como Citar
ARTIÈRES, Philippe. Arquivos do corpo, arquivo da biopolítica/ Archives of body, archive of biopolitics. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental/Brazilian Journal of Mental Health, [S. l.], v. 3, n. 6, p. 192–211, 2012. DOI: 10.5007/cbsm.v3i6.68506. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/cbsm/article/view/68506. Acesso em: 24 abr. 2024.
Seção
Artigos originais