A (re)manicomialização da política de saúde mental em tempos bolsonaristas: A volta do eletrochoque e das internações psiquiátricas

Conteúdo do artigo principal

Rachel Gouveia Passos
https://orcid.org/0000-0003-2267-0200
Tathiana Meyre da Silva Gomes
https://orcid.org/0000-0002-2777-0561
Jessica Souza de Farias
https://orcid.org/0000-0001-8827-9736
Giulia de Castro Lopes de Araújo
https://orcid.org/0000-0002-8656-1065

Resumo

A Política Nacional de Saúde Mental, Álcool e Drogas tem sido atravessada por um processo de (re)manicomialização, que ameaça as transformações conquistadas pela Reforma Psiquiátrica brasileira, fruto da onda conservadora que se fortalece a partir do golpe parlamentar contra a presidente Dilma, mas que se evidencia no campo da saúde mental desde 2010. Nesse sentido, o presente artigo objetiva apresentar, por meio de revisão bibliográfica de natureza qualitativa, o contexto político e os atores chave dessa processualidade, destacando, na conjuntura hodierna do governo de Jair Bolsonaro, os elementos centrais de uma ofensiva conservadora que atinge centralmente o campo da Saúde Mental. Conclui-se a existência de um movimento de (re)manicomialização na Política Nacional de Saúde Mental expressa na expansão das internações psiquiátricas nas comunidades terapêuticas e o incentivo ao uso de eletrochoque são expressões.

Detalhes do artigo

Como Citar
PASSOS, Rachel Gouveia; MEYRE DA SILVA GOMES, Tathiana; SOUZA DE FARIAS, Jessica; DE CASTRO LOPES DE ARAÚJO, Giulia. A (re)manicomialização da política de saúde mental em tempos bolsonaristas:: A volta do eletrochoque e das internações psiquiátricas. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental/Brazilian Journal of Mental Health, [S. l.], v. 13, n. 37, p. 42–64, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/cbsm/article/view/80618. Acesso em: 19 abr. 2024.
Seção
Política de Saúde Mental no Brasil e Atenção Psicossocial
Biografia do Autor

Rachel Gouveia Passos, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Assistente Social. Pós-doutora em Serviço Social e Políticas Sociais pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Professora Adjunta da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Colaboradora do Programa de Pós-graduação em Política Social da Universidade Federal Fluminense (UFF). Integrante do Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Serviço Social e Saúde da Universidade Federal Fluminense (NUEPESS/UFF/CNPq).  

Tathiana Meyre da Silva Gomes, UFF

Assistente Social. Pós-doutoranda em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Adjunta da Escola de Serviço Social e Colaboradora do Programa de Pós-graduação em Serviço Social e Desenvolvimento Regional da Universidade Federal Fluminense (UFF). Integrante do Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Serviço Social e Saúde (NUEPESS/UFF). 

Jessica Souza de Farias, UFF

Bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Integrante do Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Serviço Social e Saúde da Universidade Federal Fluminense (NUEPESS/UFF/CNPq).

Giulia de Castro Lopes de Araújo, UFRJ

Discente da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Bolsista de Iniciação Científica da FAPERJ. Integrante do Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Serviço Social e Saúde da Universidade Federal Fluminense (NUEPESS/UFF/CNPq).

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