O papel da mulher na agricultura familiar de Concórdia (SC): o tempo de trabalho entre atividades produtivas e reprodutivas

Autores

  • Jordan Brasil dos Santos UFFS
  • Liana Bohn UFSC
  • Helberte João França Almeida UFSC

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-8085.2020.e71525

Resumo

A pluratividade desempenhada pelas mulheres é essencial nas pequenas unidades produtivas rurais, mas economicamente seu trabalho não é percebido com a mesma importância dada às atividades tradicionalmente masculinas da agricultura. Buscando evidenciar os esforços femininos em termos de trabalho remunerado e não-remunerado, o presente estudo, a partir de entrevistas com agricultores e agricultoras familiares de Concórdia (SC), questiona se é possível afirmar que o trabalho da mulher é invisibilizado na agricultura familiar por desconsiderar o tempo de trabalho reprodutivo. Ao utilizar um município catarinense como objeto de estudo, a pesquisa assume um caráter local, mostrando que há trabalho fora do trabalho formal, e que, além do trabalho remunerado, existem diferentes atividades que devem ser reconhecidas para a compreensão da posição da mulher na economia e, especialmente, na agricultura familiar. Mediante as respostas da pesquisa de campo, é possível dizer que a dupla jornada entre as mulheres agricultoras justifica a visão de que elas não têm participação ativa no trabalho produtivo, servindo apenas como uma ajuda. Além disso, há uma percepção, por parte dos cônjuges, relativamente próxima do tempo que realmente é despendido na jornada de trabalho do parceiro, o que não tem significado a adoção de uma postura mais colaborativa nos casais. Como há certa reprodução da divisão do trabalho quando se analisa o tempo gasto nas atividades dos filhos, fica evidente que conhecer a estrutura de gênero por detrás das atividades rurais é uma forma de balizar políticas públicas voltadas ao desenvolvimento da agricultura familiar e à promoção da equidade de gênero via empoderamento feminino.

Biografia do Autor

Jordan Brasil dos Santos, UFFS

Possui graduação em Bacharel em Teologia pela Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (2012) e graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Catarina (2017). Atualmente é Reverendo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil no oeste de SC e mestrando em História pela UFFS - Universidade Fronteira Sul em Chapecó/SC na área de Movimentos Sociais com ênfase em estudo de Gênero na criação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Tem experiência na área de Educação, Teologia e Pastoral.

Liana Bohn, UFSC

Doutora em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na linha de pesquisa de Globalização e Desenvolvimento, Mestre em Economia (com ênfase em Desenvolvimento Econômico e Políticas Públicas) pela Universidade Federal de Viçosa (2013) e Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Maria (2010). Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de Santa Catarina, com as linhas de pesquisa se concentrando na área de Desenvolvimento Econômico, especialmente em Economia de Gênero e Economia Feminista.

Helberte João França Almeida, UFSC

Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de São João Del-Rei (2009), mestrado em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2012) e doutorado em Ciências Economicas pela Universidade Federal de Santa Catarina (2016). Professor adjunto da Universidade Federal de Santa Catarina. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em racionalidade limitada, complexidade e modelagem baseada em agentes

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2020-06-30

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Artigos