Maria Aragão e a “batalha da memória” envolvendo a ditadura civil-militar
DOI:
https://doi.org/10.5007/1806-5023.2021.e78267Resumo
Maria Aragão foi médica, militante do Partido Comunista Brasileiro e, posteriormente, da chamada “corrente prestista” no Maranhão. A fase final de sua vida e seguinte à morte foram marcadas por uma série de homenagens e construções de documentos biográficos e autobiográficos, conferindo à construção de sua memória um lugar central na construção da memória da ditadura civil-militar no Maranhão. Este trabalho parte dos documentos autobiográficos escritos por Maria Aragão e reunidos em dois livros e em uma revista publicada em 1988. Tem-se por objetivo avaliar o significado destas produções em meio aos embates, ocorridos tanto em âmbito nacional quanto estadual, pela reconstrução do passado recente após o período ditatorial. Destaca-se a omissão do apoio/colaboração de agentes políticos e setores da sociedade, além da construção de uma versão memorialística apaziguadora, onde praticamente todos encontram um lugar na “luta contra a Ditadura”.
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