Da radical à radicada: alteridades entre franceses e escravos no Rio de Janeiro oitocentista
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7976.2020.e64866Resumo
A cultura liberal francesa do século XIX estimulou uma série de identidades mobilizadas por estrangeiros no Brasil. Para essa cultura, a persistente escravidão brasileira foi tema incontornável. Se viajantes franceses mobilizaram uma alteridade radical em contraposição tanto à escravidão como a brasileiros e africanos escravizados, franceses que buscaram se radicar no Brasil modularam outras formas de alteridade. Mediante análise de relatos de viagens e alforrias, este artigo explicita os significados relacionais de liberdade e as alteridades em movimento emuladas em redes de sociabilidade que, notadamente no Rio de Janeiro, uniram viajantes, agentes consulares, comerciantes e escravos. O artigo demonstra em que medida estrangeiros radicados no Rio de Janeiro mobilizaram um vocabulário de distinções sociais e alteridades diferente daquele mobilizado por viajantes em seus relatos.
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