A Coleção de Tours de atas do concílio de Éfeso (431): um testemunho carolíngio de ressignificação doutrinal e circulação de textos no Mediterrâneo tardo antigo
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7976.2020.e70231Resumo
Este trabalho visa compreender a multiplicidade de sentidos e experiências históricas que se cruzam no manuscrito latino conservado na Bibliothèque Nationale de France sob o número 1.572, outrora conservado em Saint-Martin de Tours e que preserva uma coleção de “atas do concílio de Éfeso (431)” nomeada a partir dele. Defendo inicialmente a própria desconstrução da ideia de que o concílio de Éfeso tenha produzido atas em sentido estrito, alinhando-me às ideias de Eduard Schwartz acerca tanto do faccionalismo desse encontro como do caráter propagandístico das coleções documentais produzidas pelos partidos em choque nesse momento e por novos grupos eclesiásticos que deram novos sentidos à disputa cristológica após o concílio de Calcedônia (451). Passando em revista, em seguida, pela recepção do debate efesino no Ocidente latino, procedo a uma breve descrição dessa dita coleção de Tours, levantando hipóteses sobre a datação e o local de seu arquétipo (segundo quarto do século VI em Constantinopla). Por fim, voltando-me ao contexto da Gália, ofereço uma hipótese de transmissão da coleção por meio de um itinerário mediterrânico associado à dita controvérsia dos Três Capítulos, concluindo que sua recepção e produção no período carolíngio se deu tanto por meio da recuperação de sentidos produzidos ao longo dessa longa e difusa cadeia de transmissão mediterrânica quanto por novos interesses e necessidades que surgiam nesse momento na Gália carolíngia e que não necessariamente se vinculavam à polêmica cristológica.
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