Músicos e orquestras do primeiro cinema em greve: de Chicago ao Rio de Janeiro (1903-1914)
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7976.2021.e74792Resumo
O presente artigo propõe uma história social do primeiro cinema de modo a analisar um fenômeno que chacoalhou os primeiros anos do cinema mundial: as greves de músicos e orquestras de cinematógrafos nas cidades de Chicago, Rio de Janeiro e São Paulo. A particularidade comum das greves foi provocar o alvoroço por parte de patrões, polícia, jornalistas e autoridades públicas, deixando rastros, sobretudo, em jornais e revistas especializadas de cinema e cultura. Jornalistas investigativos, críticos de arte e a imprensa de modo geral repercutiram os conflitos, as estratégias e os acordos entre os sujeitos implicados nas greves, além de deixar as impressões dos coetâneos que assistiam ao fenômeno como observadores. Buscamos perscrutar os contextos dos cinematógrafos para conhecer o mundo dos músicos nas cidades; a função mediadora das associações de proteção e regulação do trabalho musical; e as razões para as greves nas três cidades investigadas. Foi possível depurar uma dinâmica global na qual a organização coletiva de músicos e orquestras foi uma estratégia utilizada amplamente no intervalo de uma década contra patrões e companhias de cinema que aceleravam a precarização das condições de trabalho, expressa sobretudo nos baixos salários recebidos.
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