Músicos e orquestras do primeiro cinema em greve: de Chicago ao Rio de Janeiro (1903-1914)

Autores

  • Michel Felipe Moraes Mesalira Universidade Federal de Santa Catarina

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7976.2021.e74792

Resumo

O presente artigo propõe uma história social do primeiro cinema de modo a analisar um fenômeno que chacoalhou os primeiros anos do cinema mundial: as greves de músicos e orquestras de cinematógrafos nas cidades de Chicago, Rio de Janeiro e São Paulo. A particularidade comum das greves foi provocar o alvoroço por parte de patrões, polícia, jornalistas e autoridades públicas, deixando rastros, sobretudo, em jornais e revistas especializadas de cinema e cultura. Jornalistas investigativos, críticos de arte e a imprensa de modo geral repercutiram os conflitos, as estratégias e os acordos entre os sujeitos implicados nas greves, além de deixar as impressões dos coetâneos que assistiam ao fenômeno como observadores. Buscamos perscrutar os contextos dos cinematógrafos para conhecer o mundo dos músicos nas cidades; a função mediadora das associações de proteção e regulação do trabalho musical; e as razões para as greves nas três cidades investigadas. Foi possível depurar uma dinâmica global na qual a organização coletiva de músicos e orquestras foi uma estratégia utilizada amplamente no intervalo de uma década contra patrões e companhias de cinema que aceleravam a precarização das condições de trabalho, expressa sobretudo nos baixos salários recebidos.

Referências

ABREU, Martha. O “crioulo Dudu”: participação política e identidade negra nas histórias de um músico cantor (1890-1920). Topoi, Rio de Janeiro, v. 11, n. 20, p. 92-113, jun.-jul. 2010.

A CINEMATOGRAPHOPATHIA. O Pharol, Juíz de Fora, n. 259, p. 2, 1907.

ALTMAN, Rick. Early film themes: Roxy, Adorno, and the problem of cultural capital. In: GOLDMARK, Daniel; KRAMER, Lawrence; LEPPERT, Richard (ed). Beyond the soundtrack: representing music in cinema. Berkeley; Los Angeles: University of California Press, 2007. p. 205−224.

ARNOLDY, Édouard. Des scènes chantées et du Film d’Art, de l’accompagnement musical aproprié et du film musical: deux ou trois notes sur une histoire de la musique du cinéma muet. 1895 Revue de l’association française de recherche sur l’histoire du cinéma, Paris, v. 7, n. 38, p. 149−165, 2002.

BAILEY, Candade. Music and the southern belle: from accomplished lady to confederate composer. Carbondale: Southern Illinois University Press, 2010.

BESSA, Virginia de Almeida. A cena musical paulistana: teatro musicado popular na cidade de São Paulo (1914−1934). 2012. 358 f. (Doutorado em História Social) − Departamento de História – FFLCH, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.

BLOCK, Adrienne F.; STEWART, Nancy. Women in American Music, 1800−1918. In: PENDLE, Karin (ed.). Women and Music: a history. Bloomington: Indiana University Press, 2001. p. 193-223.

CHION, Michel. Audio-vision: sound on screen. New York: Columbia University Press, 1994.

CARRASCO, Ney. Trilhas: o som e a música no cinema. ComCiência, Campinas, v. 10, n. 116, p.1−2, 2010.

CARVALHO, Danielle Crepaldi. O cinema silencioso e o som no Brasil (1894−1920). Galaxia, São Paulo, v. 17, n. 34, p. 85−89, 2017.

CHICAGO. Nickelodeon Performers Win Strike. The Moving Picture World, New York-Chicago, v. 3, p. 257, 1908.

COSTA, Flávia Cesarino. O primeiro cinema: espetáculo, narração, domesticação. Rio de Janeiro: Azougue, 2005.

CUARTEROLO, Andrea. El archivo en la época de su reproductibilidad técnica: recursos digitales para el estudio del cine silente latinoamericano. Vivomatografias. Revista de estudios sobre precine y cine silente en Latinoamérica, Buenos Aires, v. 3, n. 3, p. 416−447, 2017.

DUNBAR, Julie. American Popular Music (1895−1945). In: DUNBAR, Julie. Women, music, culture: an introduction. London; New York: Routledge, 2011. p. 131−152.

ERBOLATO, Mario. Técnicas de codificação em jornalismo. São Paulo: Ática, 2006.

GALVÃO, María Rita. La situación del patrimonio fílmico en Iberoamérica. Journal of Film Preservation, Bruxelas, v. 71, n. 71, p. 46−61, 2006.

GREEN-PEDERSEN, Christoffer; MORTENSEN, Peter. Who sets the agenda and who responds to it in the Danish parliament? A new model of issue competition and agenda-setting. European Journal of Political Research, New Jersey, v. 49, n. 2, p. 257−281, 2010.

GREVE de musicos: O Centro Musical de S. Paulo e a Companhia Cinematographica Brasileira − As reclamações dos musicos e a attitude da Companhia − O que nos dizem uns e outros. Correio Paulistano, São Paulo, n. 17849, p. 3, 1913.

GUNNING, Tom. The cinema of attraction: early film, its spectator and the avant-garde. In: ELSAESSER, T. (ed.) Early cinema: space-frame-narrative. Londres: British Film Institute, 1990. p. 63−70.

HADWIN, Sara. Real readers, real news. In: FRANKLIN, Bob (ed.). Local media: local journalism in context. London; New York: Routledge, 2006. p. 140−149.

HANDY, Antoinette. Black women in American bands & orchestras: African American women musicians. Lanham: Scarecrow Press, 1998.

HOUSE, Roger. Work House Blues: black musicians in Chicago and the labor of culture during the Jazz Age. Labor: Studies in Working-Class History of the Americas, Washington, DC, v. 9, n. 1, p. 101−118, 2012.

ILLUSÕES e illusões. A Noticia, Rio de Janeiro, n. 66, p. 2, 1909.

JACOBSON, Brian R. Studios before the system: architecture, technology, and the emergence of cinematic space. New York: Columbia University Press, 2015.

JESUS, Ronaldo Pereira. Cultura Associativa no século XIX: atualização do repertório crítico dos registros de sociedades na cidade do Rio de Janeiro (1841−1889). In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, Natal. Anais [...]. Natal,, 2013. p. 1−18.

JORGE, Thais de Mendonça. Valor-notícia nas capas dos periódicos: ideologia e poder. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM JORNALISMO, São Paulo. Anais [...]. São Paulo, 2017. p. 1-17.

KALINAK, Kathryn. A history of film music: 1895−1927. In: KALINAK, Kathryn. Film Music: a very short introduction. New York: Oxford University Press, 2010. p. 32−50.

KELLEY, Robin. Without a Song: New York musicians strike out against technology. In: ZINN, Howard; FRANK, Dana; KELLEY, Robin D. G. (ed.). Three Strikes: miners, musicians, salesgirls, and the fighting spirit of labor’s last century. Boston, Massachussets: Beacon Press, 2001. p. 119−155.

KLENOTIC, Jeffrey. Rurban outfitters: cinema and rural cultural development in New Hampshire’s North Cuntry, 1896−1917. In: GENNARI, Daniela; HIPKINS, Danielle; O’RAWE, Catherine (ed.). Rural cinema exhibition and audiences in a global context. New York: Palgrave Macmillan, 2018. p. 91−113.

MCCOMBS, Maxwell; SHAW, Donald. The agenda-setting function of mass media. The Public Opinion Quarterly, Washington, DC, v. 36, n. 2, p. 176−187, 1972.

MARKS, Martin Miller. Music and the silent film: contexts e case studies, 1895−1924. New York: Oxford University Press, 1997.

MENESES, Joimar de Castro. Setor externo e política econômica do Brasil, 1913−1918. 2015. 325 f. (Doutorado em História Econômica) – Departamento de História – FFLCH, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.

MOORE, Paul. Socially combustible: panicky people, flammable films, and the dangerous new technology of the Nickelodeon. In: BENNETT, Bruce; FURSTENAU, Marc; MACKENZIE, Adrian (ed.). Cinema and technology: cultures, theories, practices. New York: Palgrave Macmillan, 2008. p. 75−87.

MOORE, Paul. Spaces in-between: the railway and early cinema in rural, Western Canada. In: GENNARI, Daniela; HIPKINS, Danielle; O’RAWE, Catherine (ed.). Rural cinema exhibition and audiences in a global context. New York: Palgrave Macmillan, 2018. p. 73−89.

MORETTIN, Eduardo. Sonoridades do cinema dito silencioso: filmes cantantes, história e música. Significação, São Paulo, v. 36, n. 31, p. 149−163, 2009.

NICKELODEON Employees Threaten to Strike in Chicago. The Moving Picture World, New York-Chicago, v. 3, p. 217, 1908.

NOTICIAS theatraes. A Noticia, Rio de Janeiro, n. 189, p. 3, 1914.

O CENTRO Musical do Rio: O que resolveram os professores de orchestra − Os estatutos − Como são cumpridos − Solidariedade e victoria. A Notícia, Rio de Janeiro, n. 216, p. 3, 1907.

O PIRRALHO nos cinemas. O Pirralho, São Paulo, n. 16, p. 13, 1911.

O PIRRALHO nos cinemas. O Pirralho, São Paulo, n. 25, p. 11, 1912a.

O PIRRALHO nos cinemas. O Pirralho, São Paulo, n. 30, p. 8, 1912b.

OS CINEMATOGRAPHOS: exame das instalações. A Notícia, Rio de Janeiro, n. 290, p. 3, 1907.

PALCOS e Salões. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, n. 198, p. 2, 1902.

PAUL, William. When movies were theater: architecture, exhibition, and the evolution of American film. New York: Columbia University Press, 2016.

REGISTRO. A Notícia, Rio de Janeiro, n. 164, p. 2, 1904.

REICH, Nancy. European composers and musicians, ca. 1800−1890. In: PENDLE, Karin (ed.). Woman and music: a history. Bloomington & Indianapolis: Indiana University Press, 2001. p. 147−174.

ROSS, Andrew. The mental labor problem. In: ARONOWITZ, Stanley; ROBERTS, Michael J. (ed.). Class: the anthology. Nova Jersey: Wiley-Blackwell, 2018. p. 315−336.

SILVA, Gislene. A engrenagem da noticiabilidade no meio redemoinho. Revista Observatório, Palmas, v. 4, n. 4, p. 308−333, 2018.

SIMÓN, Pablo Iglesias. La función del sonido en el cine clásico de Hollywood durante el período mudo. Área Abierta, Madrid, v. 4, n. 7, p. 1−15, 2004.

SOUZA, José Inácio de Melo. Imagens do passado: São Paulo e Rio de Janeiro nos primórdios do cinema. São Paulo: Editora Senac, 2004.

SOUZA, Márcia Cristina da Silva. Entre achados e perdidos: colecionando memórias dos palácios cinematográficos da cidade do Rio de Janeiro. 2013. 439 f. (Doutorado em Memória Social) – Centro de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

TELEGRAMMAS. A Epoca, Rio de Janeiro, n. 247, p. 4, 1913.

TELEGRAMMAS. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, n. 307, p. 1, 1903.

WELLING, David. Cinema Houston: from Nickelodeon to Megaplez. Austin: University of Texas Press, 2007.

WITTERN-KELLER, Laura. All the power of the law: governmental film censorship in the United States. In: BILTEREYST, Daniel; WINKEL, Roel Vande (ed.). Silencing cinema: film censorship around the world. New York: Palgrave Macmillan, 2013. p. 15−32.

Arquivos adicionais

Publicado

2021-03-30

Como Citar

Mesalira, M. F. M. (2021). Músicos e orquestras do primeiro cinema em greve: de Chicago ao Rio de Janeiro (1903-1914). Esboços: Histórias Em Contextos Globais, 28(47), 17–37. https://doi.org/10.5007/2175-7976.2021.e74792

Edição

Seção

Dossiê "História urbana global"