Das aporias da espectralidade à emergência do sublime decolonial: os (des)caminhos da subjetivação e da diferença

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7976.2023.e97401

Palavras-chave:

Historicidade espectral, Diferença, Sublime decolonial

Resumo

O presente artigo toma como ponto de partida as reflexões decoloniais realizadas por Maria da Glória de Oliveira e visa tematizar como contemporaneamente os campos da teoria da história e da história da historiografia no Brasil são confrontados a responderem às linguagens do trauma, do luto e da cura que desafiam os cânones disciplinares. Em um primeiro momento, procuro situar a especificidade da discussão promovida por Maria da Glória de Oliveira em meio a reflexões (in)disciplinares que tematizam as historicidades espectrais. Em um segundo momento, defino o que estou categorizando como linguagens do trauma, do luto e da cura, que se inscrevem enquanto desafios à domesticação imposta pela historiografia disciplinar. Por fim, propondo tensionar os limites do paradigma correspondentista da representação inspirado pelas intervenções de Oliveira, argumento como as possibilidades de subjetivação e abertura para a diferença em nossos contextos de ensino/aprendizagem nas Universidades públicas são atravessadas pelas referidas linguagens, que ensejam a rearticulação de afetos e a abertura para experiências estéticas disruptivas, como a do sublime decolonial.

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Publicado

2024-03-07

Como Citar

Ramos, A. da S. (2024). Das aporias da espectralidade à emergência do sublime decolonial: os (des)caminhos da subjetivação e da diferença. Esboços: Histórias Em Contextos Globais, 30(55), 396–414. https://doi.org/10.5007/2175-7976.2023.e97401

Edição

Seção

Debate "Temporalidade, Colonialidade, Racialidade"