Gazetas Coloniais, anúncios e escravidão no início do Século XIX: uma comparação entre Rio de Janeiro e Jamaica
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7976.2025.e107226Palavras-chave:
Imprensa colonial, Escravidão atlântica, Século 19Resumo
O presente artigo se utiliza das gazetas coloniais para, a partir dos casos de Rio de Janeiro e Kingston no princípio do Oitocentos, analisar como os anúncios dos periódicos permitem interpretar os hábitos cotidianos das sociedades destes territórios, ambos importantes centros coloniais no espaço atlântico dos impérios britânico e português. Um exame estatístico de dois periódicos com apoios das respectivas monarquias, Gazeta do Rio de Janeiro e The Royal Gazette of Jamaica, é feito para permitir a comparação. Para cotejar os escravizados anunciados em cada um dos territórios, recolhemos também dados das gazetas referentes a taxa e razão de africanidade dos cativos anunciados, bem como taxa e razão de masculinidade e origens indicadas. A análise dos anúncios nas duas gazetas indica um padrão muito semelhante das ocorrências cotidianas que eram anunciadas na imprensa de territórios desenvolvidos em torno da escravidão, permitindo um novo olhar sobre os hábitos das sociedades coloniais. O estudo aponta para um modelo padrão de anúncios nas gazetas coloniais, mas com dados distintos sobretudo no que diz respeito à população escravizada e à política cultural. As dissemelhanças permitem refletir sobre a assimetria política entre as regiões numa época em que se desenhavam caminhos opostos: a Jamaica encerrara o tráfico de escravizados em 1807, enquanto o Rio experimentava um súbito aumento deste comércio após a fixação da Corte na cidade.
Referências
Algranti, L. (1988). O feitor ausente: Estudo sobre a escravidão urbana no Rio de Janeiro. Vozes.
Amantino, M. (2006). Os escravos fugitivos em Minas Gerais e os anúncios do Jornal “O Universal” – 1825 a 1832. Locus, 12(2), 59–74.
Beckles, H. McD. (2000). Property rights in pleasure: The marketing of enslaved women’s sexuality. In V. Shepherd & H. McD. Beckles (Eds.), Caribbean slavery in the Atlantic world (pp. 692–701). Ian Randle.
Beckles, H. McD. (2000a). Persistent rebels: Women and anti-slavery activity. In V. Shepherd & H. McD. Beckles (Eds.), Caribbean slavery in the Atlantic world (pp. 1001–1016). Ian Randle.
Bethell, L. (2002). A abolição do comércio brasileiro de escravos. Senado Federal.
Blackburn, R. (2016). Por que segunda escravidão? In R. Marquese & R. Salles (Orgs.), Escravidão e capitalismo histórico no século XIX: Cuba, Brasil e Estados Unidos. Civilização Brasileira.
Botein, S., Censer, J., & Ritvo, H. (1981). The periodical press in eighteenth-century English and French society: A cross-cultural approach. Comparative Studies in Society and History, 23(3), 464–490.
Brathwaite, K. (2005). The development of Creole society in Jamaica, 1770–1820. Ian Randle.
Burnard, T., & Hart, E. (2013). Kingston, Jamaica, and Charleston, South Carolina: A new look at comparative urbanization in plantation colonial British America. Journal of Urban History, 39(2), 214–234.
Burnard, T. (2018). Toiling in the fields: Valuing female slaves in Jamaica, 1674–1788. In D. R. Berry & L. Harris (Eds.), Sexuality and slavery: Reclaiming intimate histories in the Americas (pp. 33–48). University of Georgia.
Burnard, T. (2020). Slaves and slavery in Kingston, 1770–1815. International Review of Social History, 65(28), 39–65.
Burnard, T. (2020a). Jamaica in the age of revolution. University of Pennsylvania.
Carvalho, M. (2018). Cidades escravistas. In L. Schwarcz & F. Gomes (Eds.), Dicionário da escravidão e liberdade (pp. 208–217). Companhia das Letras.
Cassidy, F., & Le Page, R. (2002). Dictionary of Jamaican English. University of the West Indies.
Cave, R. (1978). Early printing and the book trade in the West Indies. The Library Quarterly, 48(2), 163–192.
Chambers, D. (2007). The links of a legacy: Figuring the slave trade to Jamaica. In A. Paul (Ed.), Caribbean culture: Soundings on Kamau Brathwaite (pp. 287–312). University of the West Indies.
Costa, T. (2001). What can we learn from a digital database of runaway slave advertisements? International Social Science Review, 76(1/2), 36–43.
Darnton, R., & Roche, D. (1996). Revolução impressa: A imprensa na França (1775–1800). Edusp.
Diptee, A. (2010). From Africa to Jamaica: The making of an Atlantic slave society, 1775–1807. University of Florida.
Dyer, G. (2009). Advertising as communication. Routledge.
Florentino, M. (2014). Em costas negras: Uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro (séculos XVIII e XIX). Unesp.
Fragoso, J. (1998). Homens de grossa aventura: Acumulação e hierarquia na praça mercantil do Rio de Janeiro (1790–1830). Civilização Brasileira.
Freyre, G. (1979). O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX. Cia Editora Nacional. (Original publicado em 1961)
Gomes, F. (1996). Jogando a rede, revendo as malhas: Fugas e fugitivos no Brasil escravista. Tempo, 1(1), 67–93.
Guerra, F.-X., & Lemperiere, A. (2008). Introducción. In F.-X. Guerra (Ed.), Los espacios públicos en Iberoamérica: Ambigüedades y problemas. Siglos XVIII–XIX (pp. 5–14). Centro de Estudios Mexicanos y Centroamericanos.
Habermas, J. (2003). Mudança estrutural da esfera pública. Tempo Brasileiro.
Hall, G. M. (2005). Slavery and African ethnicities in the Americas: Restoring the links. University of North Carolina.
Higman, B. W. (1995). Slave population and economy in Jamaica, 1807–1834. University of the West Indies.
Higman, B. W. (2008). Plantation Jamaica, 1750–1850. University of the West Indies.
Karasch, M. (2000). A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808–1850). Companhia das Letras.
Lobo, E. (1970). Rio de Janeiro e Charleston: As comunidades de mercadores no século XVIII. Journal of Interamerican Studies and World Affairs, 12(4), 565–582.
Lopes, N. (2011). Enciclopédia brasileira da diáspora africana (4ª ed.). Selo Negro.
Luccock, J. (1820). Notes of Rio de Janeiro and the southern parts of Brazil. Samuel Leigh.
Mair, L. M. (2000). The rebel woman in the British West Indies during slavery. In V. Shepherd & H. McD. Beckles (Eds.), Caribbean slavery in the Atlantic world (pp. 984–1000). Ian Randle.
Malerba, J. (2008). Sobre o tamanho da comitiva. Acervo, 21(1), 47–62.
Marquese, R. (2004). Feitores do corpo, missionários da mente: Senhores, letrados e o controle dos escravos nas Américas, 1660–1860. Companhia das Letras.
Marquese, R. (2019). A história global da escravidão atlântica: Balanço e perspectivas. Esboços, 26(41), 14–41.
McMichael, P. (1990). Incorporating comparison within a world-historical perspective: An alternative comparative method. American Sociological Review, 55(3), 385–397.
Meirelles, J. G. (2006). A Gazeta do Rio de Janeiro e o impacto na circulação de ideias no império luso-brasileiro (1808–1821) (Dissertação de mestrado). Universidade Estadual de Campinas.
Meirelles, J. G. (2017). Política e cultura no governo de Dom João VI: Imprensa, teatros, academias e bibliotecas (1792–1821). EdUFABC.
Morel, M. (2008). La génesis de la opinión pública moderna y el proceso de independencia (Rio de Janeiro, 1820–1840). In F.-X. Guerra (Ed.), Los espacios públicos en Iberoamérica (pp. 194–208). Centro de Estudios Mexicanos y Centroamericanos.
Morgan, J. (2004). Laboring women: Reproduction and gender in New World slavery. University of Pennsylvania.
Morgan, P., & Greene, J. (2009). Atlantic history: A critical appraisal. Oxford University Press.
Moura, A. M. de. (2022). Cultura escravista e resistência escrava nos anúncios de fuga do Jornal do Commercio (Rio de Janeiro, 1827–1850) (Dissertação de mestrado). Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
Neves, L. M. B. P. das. (2009). Dos “avisos” de jornais às resenhas como espaços de consagração (1808–1836). In L. M. B. P. das Neves (Org.), Livros e impressos (pp. 55–89). EdUERJ.
Paiva, E. F. (2018). Alforrias. In L. Schwarcz & F. Gomes (Eds.), Dicionário da escravidão e liberdade (pp. 118–127). Companhia das Letras.
Parron, T. (2022). Revolução industrial e circuitos mercantis globais: A crise da escravidão no Império britânico. Revista USP, 132, 185–212.
Patterson, O. (1973). The sociology of slavery. Granada Publishing.
Petley, C. (2012). Gluttony, excess, and the fall of the planter class in the British Caribbean. Atlantic Studies, 9(1), 85–106.
Pinto, A. O. (2006). Cabinda e as construções da sua história (1783–1887). Dinalivro.
Pires, J. V. (2022). A escravidão como um negócio disseminado no jornal da Corte de D. João VI no Rio de Janeiro (1808–1821). Anuario de Estudios Americanos, 79(1), 171–204.
Sampaio, A. C. J. de. (2003). Na encruzilhada do Império: Hierarquias sociais e conjunturas econômicas no Rio de Janeiro (c.1650–c.1750). Arquivo Nacional.
Santos, Y. L. dos. (2012). Irmãs do Atlântico: Escravidão e espaço urbano no Rio de Janeiro e Havana (1763–1844) (Tese de doutorado). Universidade de São Paulo.
Schultz, K. (2008). Perfeita civilização: A transferência da corte, a escravidão e o desejo de metropolizar uma capital colonial. Tempo, 12(24), 5–27.
Schwarcz, L. (1987). Retrato em branco e negro: Jornais, escravos e cidadãos em São Paulo no final do século XIX. Companhia das Letras.
Silva, A. C. e. (2021). A África e os africanos na história e nos mitos. Nova Fronteira.
Silva, M. B. N. da. (2007). A Gazeta do Rio de Janeiro, 1808–1822: Cultura e sociedade. EdUERJ.
Silva, R. da C. e. (1999). Benguela e o Brasil no final do século XVIII: Relações comerciais e políticas. In S. Pantoja & J. Saraiva (Orgs.), Angola e Brasil nas rotas do Atlântico Sul (pp. 127–142). Bertrand Brasil.
Souza, E. S. de. (2015). O mercado de crédito na corte joanina: Experiências das relações sociais de empréstimos (Dissertação de mestrado). Universidade Federal Fluminense.
Stewart, J. (1823). A view of the past and present state of the Island of Jamaica. Oliver & Boyd.
Tomich, D. (2004). Through the prism of slavery. Rowman & Littlefield Publishers.
Townsend, C. (2000). Tales of two cities: Race and economic culture in early republican North and South America. University of Texas.
Wallace, S. (2017). Fugitive slave advertisements and the rebelliousness of enslaved people in Georgia and Maryland, 1790–1810 (Doctoral thesis). University of Stirling.
Wallerstein, I. (2001). Capitalismo histórico e civilização capitalista. Contraponto.
Williams, E. (1975). Capitalismo e escravidão. Americana.
Wood, A., & Smith, B. (2021). Fugitives from slavery in Jamaica, 1718–1795. Enslaved: Journal of Slavery and Data Preservation, 2(2), 26–35.
Youssef, A. E. (2010). Imprensa e escravidão: Política e tráfico negreiro no Império do Brasil (Rio de Janeiro, 1822–1850) (Dissertação de mestrado). Universidade de São Paulo.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 João Victor Ribeiro Pires

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
A reprodução dos textos editados pela Esboços: histórias em contextos globais é permitida sob Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0). Será pedido aos autores que assinem a licença de acesso aberto antes da publicação.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Os autores cedem à revista eletrônica Esboços: histórias em contextos globais (ISSN 2175-7976) os direitos exclusivos de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0).
- Essa licença permite que terceiros final remixem, adaptem e criem a partir do trabalho publicado desde que atribua o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico.
- Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução ou como capítulo de livro).

Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.


