Os “Incorrigíveis”: trabalho e comércio dos pombeiros nas caravanas de Angola Central, século XIX
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7976.2024.e102702Palavras-chave:
Pombeiros, Comércio de Longa Distância, Angola CentralResumo
A formação do mundo atlântico abriu espaço para diversas rotas de circulação de mercadorias no continente africano, tanto aquelas vindas de outros continentes e altamente valorizadas entre as sociedades africanas do interior, quanto aquelas que eram produzidas na África e exportadas pelo Oceano. Tão fundamentais quanto a mão de obra envolvida na produção desses gêneros de exportação foram os contingentes de trabalhadores responsáveis pelo transporte dessas mercadorias pelas rotas de longa distância, em especial os carregadores de caravanas, sujeitos incontornáveis à realização do comércio em territórios sem grandes rotas marítimas e fluviais ou sem a possiblidade de uso de tração animal. Esse texto pretende refletir sobre agentes essenciais para o recrutamento desses carregadores em Angola Central, os pombeiros, mercadores africanos provenientes de feiras comerciais do interior que, durante o século XIX, comandavam pequenas frações das caravanas dos comerciantes portugueses, controlando o recrutamento, segurança e disciplinamento dessas comitivas. Em uma posição ambígua como parceiros de negócio e trabalhadores contratados, estudar a agência dos pombeiros e suas disputas com os colonos ajuda a repensar o cotidiano do comércio angolano oitocentista e a reconsiderar a história do trabalho na região.
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