Quando começa a Guerra Fria na América Latina?: um olhar a partir dos programas estadunidenses de auxílio técnico
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7976.2025.e105344Palavras-chave:
Guerra Fria, América Latina, Auxílio técnicoResumo
Este artigo discute e problematiza marcadores convencionalmente utilizados para definir o início da Guerra Fria na América Latina. Partindo de uma noção ampliada de Guerra Fria global, sustentada por autores como Westad (2005) e Pettina (2018), nossa perspectiva busca extrapolar a compreensão de grandes eventos político-militares como marcos definitivos da contenda global entre capitalismo e comunismo. Conforme constatado em revisão bibliográfica e na análise de fontes sobre os programas de cooperação técnica dos Estados Unidos para repúblicas latino-americanas, a noção de que a Guerra Fria chegou de fato ao hemisfério por ocasião da Revolução Cubana em 1959 ou mesmo após a participação dos EUA no golpe da Guatemala em 1954 se mostra insuficiente. Ao deslocarmos as lentes interpretativas de perspectivas históricas episódicas, é possível compreender como as pressões e tensões da Guerra Fria operaram em uma diversidade de fronts, muitos deles silenciosos, desestabilizando e direcionando aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais na América Latina como parte de uma longa trajetória de consolidação da hegemonia estadunidense na região. No presente exercício de análise, observamos esse fenômeno principalmente a partir de programas de auxílio técnico dos EUA em países latino-americanos, explicitando a forma pelas quais tais iniciativas ensejaram o favorecimento do capital privado estadunidense e o alinhamento do hemisfério aos desígnios anticomunistas de Washington.
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