O Autômato Humano e o Enxadrista: Reflexões sobre a Inteligência Artificial e sua Aplicação na Arte

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1677-2954.2025.e102074

Palavras-chave:

Autonomização da Máquina, Automatização Humana, Arte, IA

Resumo

Em Adorno e Horkheimer (1985), na Dialética do esclarecimento, lançada em 1947, vemos ser discutidas as relações entre o mundo administrado, o capitalismo em estado de aporia, e a aporia da razão, cujo reflexo artístico encontra-se na conformação de uma indústria cultural ao mesmo tempo acalentadora e alienante, que repete no filme a sintaxe social em seu pleno funcionalismo, que opera como um espelho para o indivíduo apenas funcional, mecanizado. Não fora previsto pelos autores que à automatização do homem se seguiria um esforço pela autonomização racional da própria máquina. Este desígnio, até os anos 1950, coube mais à ficção, que, seja no autômato de Edgar Allan Poe ou nas visitas lunares dos personagens de H. G. Wells e de Georges Méliès, questionou o futuro antes dele existir. Hoje, em plena vigência do futuro, porém, torna-se mais difícil questioná-lo, os questionamentos são bloqueados pela exigência do realismo, que é de fato a aceitação não apenas do dado, mas da sua função dentro de uma racionalidade única. No interesse de questionar o presente e o futuro da autonomização da máquina por meio da inteligência artificial (IA), portanto, iremos discutir aqui sua implementação na arte. Consideraremos seu funcionamento e a cognição humana, inicialmente, para compreender os compromissos epistemológicos que determinam a ideia de uma pretensa igualdade entre a inteligência artificial e a humana, passando depois ao estudo das consequências estéticas, marginalmente, de seu uso na produção artística. Pretendemos demonstrar a unidade existente entre a tendência à autonomização da máquina e a tendência à automatização do humano.

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2025-06-16

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Artigos