Narciso e Biotecnologia: uma abordagem feminista decolonial das "Drogas do Amor"

Autor/innen

DOI:

https://doi.org/10.5007/1677-2954.2025.e99678

Schlagworte:

Tecnociência

Abstract

O artigo propõe uma análise crítica da proposta de intervenções biotecnocientíficas no amor, a partir de uma perspectiva feminista decolonial. A defesa das chamadas “drogas do amor” apela à desejabilidade ética do socorro à vítima de violência doméstica. Contudo, os pressupostos de neutralidade moral das tecnologias e a racionalidade como essência da natureza humana que sustentam tal proposta, mascaram os atravessamentos de raça, classe e gênero que modulam a concretude da violência doméstica. Mais do que isso, a naturalização/biologização das diferenças entre os sexos e dos afetos humanos é usada para justificar o controle de afetos e condutas, sobretudo, das mulheres. O confronto, portanto, não se dá contra o caos afetivo ou a violência, como os defensores de tais intervenções argumentam, mas contra a possibilidade eminente de outras formas de organização social, não-hierárquicas, não-exploratórias e respeitosas dos anseios e da constituição identitária de todos os seus integrantes.

Autor/innen-Biografien

Monique Pyrrho, Universidade de Brasília

Doutora em Bioética, pela Universidade de Brasília.

Professora do Centro Internacional de Bioética e Humanidades.

Universidade de Brasília, Brasília - DF, Brasil.

pyrrho.monique@gmail.com

Maria Clara Marques Dias, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Doutora em Filosofia pela Freie Universität Berlin (1993).

Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde integra o Departamento de Filosofia e o Programa Interinstitucional e Interdisciplinar de Pós-Graduação em Bioética, Ética aplicada e Saúde coletiva.

Izabela Amaral Caixeta, Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal

Mestra em Políticas Públicas em Saúde pela Fiocruz Brasília.

Doutoranda em Bioética pelo Programa de Pós-graduação em Bioética da Universidade de Brasília.

Professora de Sociologia da Secretaria de Educação do Distrito Federal

Literaturhinweise

AURENQUE, D.; MCDOUGALL, C. W. Amantes sunt amentes: pathologizing love and the meaning of suffering. The American Journal of Bioethics 2013; 13(11): 34-36.

BANDEIRA, L.; ALMEIDA, T. M. C. Bioética e feminismo: um diálogo em construção. Bioética 2008; 16 (2): 173 – 189.

BETTINI, M.; PELLIZER, E. Il mito di Narciso. Immagini e racconti dalla Grecia a oggi. Einaudi: Torino, 2003.

BOESCH, B. A thomistic account of anti-love biotechnology. The American Journal of Bioethics 2013; 13(11): 30-31.

CANEVACCI, M. Quatro mitos para um narciso só. Ide 1991; 21: 92-101.

CERQUEIRA, D.; BUENO, S. (coord.). Atlas da violência 2023. Brasília: Ipea; FBSP, 2023.

DANAHER, J. The vice of in-principlism and the harmfulness of love. The American Journal of Bioethics 2013; 13(11): 19-21.

DATASENADO. Pesquisa nacional de violência contra a mulher. Brasília: Senado Federal, 2023. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/datasenado/materias/relatorios-de-pesquisa/pesquisa-nacional-de-violencia-contra-a-mulher-datasenado-2023 [acesso em 25 março 2024]

DE DREU, C. W.; GREER, L. L.; HANDGRAAF, M. J. J.; SHALVI, S.; VAN KLEEF, G. A.; BAAS, M.; TEN VELDEN, F. S.; DIJK, E. V.; FEITH, S. W. W. The neuropeptide oxytocin regulates parochial altruism in intergroup conflicts among humans. Science 2010; 328 (5984):1408–11.

DIAS, M. C. (org). A perspectiva dos funcionamentos: em defesa de uma abordagem moral mais inclusiva. Rio de Janeiro: Editora Pirilampo, 2015.

DIAS, M. C. (org). Bioética: fundamentos teóricos e aplicações. Curitiba: Editora Appris, 2017.

DIAS, M. C. Sobre nós: expandindo as fronteiras da moralidade. Rio de Janeiro: Editora Pirilampo, 2016.

DINIZ, J.; MAGALHÃES, A. S.; MONTEIRO, M. C. Na dor e no amor: violência e rede de apoio no encarceramento feminino. O Social em Questão 2019; 22(45): 81-102.

DOUGLAS, T. Moral enhancement. Journal of Applied Philosophy 2008; 25(3): 228-245.

EARP, B. Cure for love: should we take anti-love drugs? New scientist 2014, 2956: 27-28.

EARP, B. Love and other drugs. Philosophy Now 2012, 91: 14-17.

EARP, B. D.; SANDBERG, A.; SAVULESCU, J. Brave new love: the threat of high-tech “conversion” therapy and the bio-oppression of sexual minorities. AJOB Neuroscience 2014; 5(1): 4-12.

EARP, B. D.; SANDBERG, A.; SAVULESCU, J. Natural selection, childrearing, and the ethics of marriage (and divorce): building a case for the neuroenhancement of human relationships. Philosophy & Technology 2012; 25(4): 561-587.

EARP, B. D.; WUDARCZYK, O. A.; SANDBERG, A.; SAVULESCU, J. If I could just stop loving you: anti-love biotechnology and the ethics of a chemical breakup. The American Journal of Bioethics 2013; 13(11): 3-17.

ENCK, G. An error theory of biotechnology and the ethics of chemical breakups: it is the reasons, not the pharmaceuticals, that are important in defending against perilous love. The American Journal of Bioethics 2013; 13(11): 32-34.

EPRIGHT, M. C.; WALLER, S. When love hurts children: controlling the feelings of minors. The American Journal of Bioethics 2013; 13(11): 28-29.

ESPOSITO, R. Immunitas: protezione e negazione dela vita. Torino: Einaudi, 2002.

FEDERICI, S. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. Editora Elefante, 2023.

FEDERICI, S. The reproduction of labour power in the global economy and the unfinished feminist revolution. In: ATZENI, M. (ed). Workers and labour in a globalised capitalism: contemporary themes and theoretical issues. Hampshire: Palgrave Macmillan, 2014.

FISHER, H. E. Lust, attraction, and attachment in mammalian reproduction. Human Nature 1998; 9(1): 23–52.

FISHER, H. E. Lust, attraction, attachment: biology and evolution of the three primary emotion systems for mating, reproduction, and parenting. Journal of Sex Education and Therapy 2000; 25(1): 96–104.

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA – FBSP. 17o Anuário brasileiro de segurança pública. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2023. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2023/07/anuario-2023.pdf (acesso em 25.03.2017)

FOUCAULT, M. Histoire de la Sexualité I: la volonté de savoir. Paris: Gallimard; 1976.

GARASIC, M. D. Anti-love biotechnology: was it not better to have loved and lost than never to have loved at all? The American Journal of Bioethics 2013; 13(11): 22-23.

GOMES, M. G. M.; GASPAR, L. H. L. Os impactos do caso Maria da Penha no ordenamento jurídico brasileiro: avanços e desafios no combate à violência contra a mulher. In: COMISIÓN INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Impactos CIDH: compendio artículos académicos. 2023. p. 121-137.

GRINER, A. Entre sinapses e hormônios: medicalização do amor, subjetividades e a bioética dos afetos e das intimidades. 2019. Tese -Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019. KILOMBA, G. Desobediências poéticas. São Paulo: Pinacoteca de São Paulo, 2019.

LUGONES, M. Colonialidad y género. Tabula Rasa 2008; 9: 73-101.

MARCHANT, G. E.; STEVENS, Y. A. Involuntary exposures to love-enhancing or anti-love agents. The American Journal of Bioethics 2013; 13(11): 26-27.

MCARTHUR, N. The heart outright: a comment on “If I could just stop loving you”. The American Journal of Bioethics 2013; 13(11): 24-25.

PYRRHO, M. Uma genealogia imunitária: a bioética e a busca da autoconservação humana. Bioética 2014; 22 (2): 225-33.

RAKIĆ, V. Voluntary moral enhancement and the survival-at-any-cost bias. Journal of Medical Ethics 2014; 40(4) :246–250.

RIBEIRO, D. C.; MOREIRA, K. L. Não atire outra pedra. Processo reparatório de dano moral por adultério: mais uma violência contra as mulheres. Revista Jurídica Luso-Brasileira 2021; 7 (6): 537-566.

SANDBERG, A. Cognition enhancement: upgrading the brain. In: SAVULESCU, J.; TER MEULEN, R.; KAHANE, G. (ed.). Enhancing human capacities. Oxford: Wiley-Blackwell, 2011.

SPIVAK, G. C. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: UFMG, 2010.

TAYE, H. The difficult case of voluntariness as autonomy in anti-love biotechnology. The American Journal of Bioethics 2013; 13(11): 1-2.

TAYLOR, S. E.; SAPHIRE-BERNSTEIN, S.; SEEMAN, T. E. Are plasma oxytocin in women and plasma vasopressin in men biomarkers of distressed pair-bond relationships? Psychological Science 2010; 21(1): 3-7.

VEJA. O terror do feminicídio: ‘Me fiz de morta para ele desistir’. Redação 17 de fevereiro de 2020. Disponível em: https://veja.abril.com.br/videos/em-pauta/o-terror-do-feminicidio-me-fiz-de-morta-para-ele-desistir

WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. Violence against women prevalence estimates 2018: global, regional and national prevalence estimates for intimate partner violence against women and global and regional prevalence estimates for non-partner sexual violence against women. Geneva: World Health Organization; 2021.

YOUNG, L. J. Being human: love: neuroscience reveals all. Nature 2009; 457(7226): 148.

Veröffentlicht

2025-06-16

Ausgabe

Rubrik

Artigos